Bruno Rogens - Sociólogo, professor UEMA, Presidente do Sindicato dos professores da UEMA e UEMASUL, Secretário de formação política PSOL-Ma
Passados quase 8 anos da administração Flávio Dino/Carlos Brandão à frente do governo do estado do Maranhão ficou claro à toda sociedade maranhense que tal grupo cometeu estelionato político contra o povo maranhense ao se colocar como alternativa à lógica oligárquica, representada sobretudo pelas lideranças da família Sarney na política, mas ao fim e ao cabo do governo reproduzindo a lógica da estrutura oligárquica e ainda mais se aliando aos mesmos no arranjo eleitoral de 2022.
Não se compreende um milimetro sobre a política maranhense se não se domina o conceito de estrutura oligárquica. Cunhado pelo cientista politico professor da UFMA Flávio Reis em sua célebre dissertação de mestrado escrita na Unicamp e depois apropriada de forma criativa por várias análises sendo uma das mais conhecidas as do historiador também professor da UFMA Wagner Cabral ao analisar a lógica da recomposição oligárquica ainda no governo Jackson Lago, a fortuna teórica e analítica do conceito ganhou novos contornos com a dissertação do cientista social professor da UESPI Robison Pereira com sua dissertação de mestrado escrita na Unesp publicada recentemente intitulada Maranhão Crisálida? Práticas discursivas e rede de relações sociais no governo José Sarney 1966-1970.
Na concepção desenvolvida por Robison o conceito de oligarquia assume os contornos de uma espécie de sistema de posições ocupadas estratégicamente por um conjunto de atores que vão desde espaços consagrados na intelectualidade conservadora, à espaços no campo jurídico, no poder judiciário, na advocacia, na imprensa e nos partidos políticos à nível nacional e regional. Apenas um arranjo como este permite compreender como uma monstruosidade como a Lei Sarney de Terras pode ser operada politicamente trazendo a radicalização da concentração fundiária no campo maranhense, a expulsão de camponeses de suas terras de pequena propriedade e o inchaço populacional nas precárias médias e grandes cidades maranhenses agravando exponencialmente o caos social no estado tanto no campo quanto na cidade e que continua em vigor até hoje.
A estrutura oligárquica se reproduziu com exuberância e eficácia política desde a sua formação em fins do século XIX atravessando todos os ciclos políticos nacionais, trocando de chefes e de grupos políticos dirigentes, atravessando a velha república, o café com leite, a revolução de 30, a ditadura militar, a redemocratização com a nova república, a apogeu e queda do presidencialismo de coalização fruto do pacto da nova república de 88, até o esgarçamento do tecido social e político expressos pelas jornadas de junho de 2013, a crise da esquerda tradicional liderada pelo PT e Lula, a reorganização da nova direita brasileira na esteira da lava jato e do realinhamento conservador em torno do neo fascismo liderado por Bolsonaro. O Maranhão pobre e oligárquico observou à todas estas mudanças de período e não mudou um milimetro sequer a sua forma de organização estrutural que gira em torno de uma liderança que governa com mão de ferro com controle total do parlamento e das organizações sociais, e com Flávio Dino à partir de 2014, com um verniz supostamente democratizante e de esquerda.
Agora em 2022 quase a totalidade dos grupos, lideranças, sindicatos e organizações da chamada esquerda maranhense encontram-se tragados pelo jogo eleitoral montado por Flávio Dino, reféns de sua estratégia e ele próprio refém da estrutura oligárquica tendo que agradar de Josimar de Maranhãozinho à FETAEMA. Cabe o registro de que Flávio soube se movimentar com maestria por dentro da estrutura oligárquica, fruto de seu amplo conhecimento de como funciona o campo jurídico e também de seu trânsito junto às família tradicionais maranhenses onde se decide os destinos do Maranhão do alto de suas varandas ventiladas com os ventos que sopram da baia de São Marcos. Flávio Dino e seu grupo, agora aliados da família Sarney perderam o discurso do combate à estrutura oligárquica e torcerão para que seja um campanha rápida sem debate, sem política, sem a verdade nua e crua de que sua política é apenas mais um capítulo da reprodução desta estrutura.
Diante deste estado de coisas não resta outra coisa ao que restou da esquerda autêntica no Maranhão do que dizer a verdade. A verdade é que apenas as candidaturas majoritárias do PSOL possuem condições de assumir o espólio da autêntica e verdadeira esquerda maranhense ao apresentarem ao povo um programa e uma política democrática e popular e de superação da tradicional estrutura oligárquica. As candidaturas mais à esquerda do PSOL (PSTU e PCB) possuem o mérito de manterem sua coerência histórica mas sem condições gerais influenciarem a disputa de massas. Apenas Enilton Rodrigues, disputando o governo do estado e Antônia Cariongo disputando senado possuem as condições de dialogarem diretamente com setores progressistas da sociedade e manterem acessas as chamas de uma esquerda autêntica, coerente e organicamente vinculada às lutas sociais no Maranhão.
Tomemos o exemplo de Antônia Cariongo. Líder quilombola do município de Santa Rita, lidera o comitê quilombola da região e enfrentou o autoritarismo do governo federal/Dnit que queria literalmente que a duplicação da BR135 passasse por cima dos quilombos da região. Antônia enfrentou tratores e mobilizou as lideranças da região para que fosse respeitada a convenção 169 da OIT que estabelece a consulta livre e prévia às comunidades tradicionais objetos de obras em seus territórios. Antônia tem coragem para denunciar a situação das escolas quilombolas no governo Flávio Dino bem como a paralisação dos processos de titulação de territórios quilombolas pelo governo federal. Sua candidatura ao senado é uma oportunidade de vocalizar uma reconstrução crítica dos movimentos sociais quanto ao adesismo sem critérios à um governo que pensa que “quilombolas são seres humanos iguais à gente”. Hoje na região dos quilombos de Santa Rita e Itapecuru Mirim a obra está paralisada graças à atuação corajosa do comitê quilombola liderado por Antônia Cariongo.
Superar a estrutura oligárquica não é tarefa fácil e nem de curto prazo. Exige compreensão estratégica do papel da esquerda maranhense. Nesse sentido a candidaturas própria do PSOL ao governo do Maranhão representada por Enilton Rodrigues e a candidatura ao senado de Antônia Cariongo afigura um passo importante na demarcação de um campo político independente que não vacila ao ouvir o canto da sereia oligárquica regada à cargos, altos salários, benesses e vislumbre do poder em palácios governamentais. Superar a estrutura oligárquica exige uma esquerda forte e independente com autonomia de classe e coragem para criticar e denunciar a falsa esquerda que se aninhou em cargos governamentais e que agora precisa fazer campanha ao lado dos algozes de sempre do povo maranhense.
Os leões rugiram contra o povo maranhense, quilombolas, indígenas, camponeses, funcionários públicos, classe trabalhadora em geral. Um governo que termina exaltando a criação de restaurantes populares para aplainar a fome de milhões de maranhenses enquanto os índices sociais e econômicos apenas pioraram está na verdade apresentado o atestado de sua incompetência governamental e de seu estelionato político. Que a experiência de participação em governos de conciliação de classes à nível nacional e de recomposição oligárquica à nível estadual possa servir de lição político pedagógica às classes oprimidas de que apenas a sua própria força representada por suas próprias organizações poderão libertar o povo e o Estado do julgo daqueles que há séculos se apropriam dos recursos públicos para favorecem seus interesses privados. Vamos com Enilton Rodrigues 50, Antônia Cariongo 500 e nossos deputados federais e estaduais!!!!