quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Notas sobre o público e o privado: semiologia do fetiche e da degradação visual no bairro da Cohab em São Luís

No espaço social é que são efetivas as relações sociais. A maneira como esse espaço se mostra, portanto, pode nos indicar muito a respeito das concepções, representações e visão de mundo daqueles se utilizam desse espaço.


Em minha andanças pela cidade o espaço urbano se mostra de maneira bastante diversa. Existem bairros ‘nobres’, periferias, praças, avenidas, ruas de terra, asfaltadas, enfim um mosaico de situações que expressam a cidade em sua diversidade.
À respeito das expressões que esses espaços mostram resolvi mostrar aqui duas distintas situações no bairro em que moro, Cohab-Anil. Uma área tomada por empreendimentos privados, lojas, concessionárias, laboratórios médicos e supermercados e outra notadamente um espaço de responsabilidade do poder público. O primeiro é o espaço nas imediações do mini shopping Dalplaza, e o outro nas redondezas da Escola Pública Estadual Arnaldo Ferreira.



O espaço privado é marcado pela organização, urbanização, pela segurança privada, com um predomínio considerável de banners publicitários onde os transeuntes podem se sentir num grande centro comercial que apresenta uma variedade considerável de mercadorias . ÀS COMPRAS CIDADÃOS.
Já no espaço publico observamos o abandono como marca predominante. As paredes são sujas e pichadas, e aqui cabe fazer a distinção entre pichação e grafite.





A primeira é vandalismo a segunda uma expressão da cultura hip-hop. Calçadas esburacadas, na verdade, em alguns trechos observamos a ausência mesma de calçada, um perigo para pedestres com maior dificuldade de locomoção como idosos e crianças. O interior da escola se apresenta como uma espécie de zona de guerra abandonada. E é lá que nossas crianças estão aprendendo a ser ‘cidadãos’. Janelas quebradas.



Próximo à escola um ponto de ônibus também apresenta sinais de abandono e descaso com a destruição parcial da calçada por onde os passageiros adentram ao coletivo. Mais uma vez um perigo, agora para os usuários de transporte coletivo. Não por acaso, andei mais um pouco e vi um esgoto estourado jorrando líquidos fétidos por grande parte da avenida 3 da Cohab.





Se tivesse mais tempo livre poderia colocar aqui muito mais situações desse tipo, e isso num bairro planejado como a Cohab. Eu imagino a situação nos bairros de periferia e nas chamadas ‘ocupações’. A intenção aqui é mostrar simbolicamente a maneira como os espaços sociais são utilizados e apropriados pelas pessoas. A maneira como essa apropriação é feita pode ser usado como uma metáfora das representações sociais que essas pessoas têm do espaço. No caso dos espaços deteriorados, não há qualquer reclamação ou demonstração de incômodo. O espaço público parece ter sido internalizado como degradado e destruído. Já o espaço privado é visto como símbolo de deleite e gozo ( o velho fetiche) por parte dos consumidores ávidos por demonstram algum símbolo que os diferencie da massa silenciosa de cidadãos.
A intenção aqui é propor uma certa análise do espaço público e privado através da semiologia dos espaços urbanos para mostrar um pouco mais da realidade cada vez mais surreal, melhor hiperreal do cotidiano ludoviscense.

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