sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Woodstock 99: foi um desastre total?

 

Assisti pela 2º vez o documentário "Desastre Total: Woodstock 99" e um turbilhão de ideias vieram imediatamente à cabeça. Segue uma tentativa de organizá-las,


Em primeiro lugar cabe destacar e comparar o significado histórico social do festival de 69 com o de 99.O da década de 60 se insere no contexto de uma juventude que está de saco cheio das velhas estruturas políticas e econômicas, que está cansada da indústria da guerra mas também com as formas tradicionais da política em negarem isso. A galera do paz e amor não era nem de esquerda nem de direita muito pelo contrário, como falou muito bem uma vez Raulzito. Já a galera de 99, sobretudo nos EUA, representa uma juventude que é parte de um setor social que o sociólogo Jean Baudrillard classificou como de buraco negro social em seu famoso ensaio sobre o fim do social e o surgimento das massas. É uma galera que surfa na ambiguidade do pós-moderno que está conformada com seu emprego meia boca desde que sobre uns trocados pras baladas de fim de semana e que não está nem aí pra crítica social, resistência política ou se organizar sob formas de estruturas burocráticas. O festival de 69 era paz, amor, drogas e rock-and-roll… Já o de 99 era sexo, drogas, rock-and-roll e violência. A condição capitalista é fio condutor de todo esse processo histórico com o fato histriônico de que em 99 o capitalismo consegue comprar até mesmo a experiência religiosa colocando monges tibetanos para rezar pela paz enquanto o caos e a desordem reinavam no festival.





O imaginário social da juventude que foi ao woodstock de 99 era moldado por essa lógica de mercado, pelo estetização da violência no cinema e pela fúria do novo metal que estava sendo feito naquela época. O line-up do festival percebe isso colocando Korn e Limp Bizkit como principais atrações nos 2 primeiros dias,  momento em que o drama da vida social capitalista pós-moderna nos EUA foi simbolizada num festival que obteve vários problemas de infra-estrutura pela necessidade de que o mesmo gerasse lucro para seus produtores. Acontece que na vida social a exploração e a injustiça econômica são amortecidas e mascaradas pelas várias camadas superstruturais de uma sociedade de consumo de mercado normais coisa impossível de reproduzir num festival de 3 dias em que no 1º dia 500ml de água era vendida à 4 dólares e no último à 12 enquanto que o preço normal de mercado era 0,65. O Ápice do sentimento de revolta aconteceu quando o Limp Bizkit tocou a sugestiva Break Stuff no qual a fúria, a raiva daquela geração explodiu numa revolta contra os símbolos daqueles que o oprimiam no festival e que eram símbolos específicos de sua exploração mais geral no mercado selvagem capitalista. O Limp Bizkit fez um puta show e como bem dito no documentário não dá pra esperar que um urso não aja como um urso. O newmetal é fúria selvagem e violência sonora radical e fez o que deveria ser feito por um banda de rock dos anos 90 afinal de contas rock é revolta, rebeldia e atitude. Ali ficou claro que o rock dos anos 90 continuava selvagem e elemento de incomodo do sistema como foram Jimy Hendrix, Jim Morison e o Led Zepelim. Tanto que tiveram que interromper o show do Limp.


O 3ª dia do festival completou esse ciclo de tudo o que está errado e que ainda pode piorar. O público ainda mantinha esperanças de ser recompesado em seu esforço mas quando os incendios começaram o Red Hot Chilli Pepper voltam ao palco para tocar o cover de Hendrix Fire não se pode esperar que coisa melhor surgisse. Curioso é que na narrativa que a imprensa forjou após o festival apenas Fred Durst foi culpado por incendiar a plateia com seu rock e hip-hop selvagem contudo o Anthony Kiedis fez pior e ainda de forma explícita ao tocar a cover após o aparecimento do 1º incêndio. O significado social da revolta é recuperado quando a multidão enfurecida entoa killing in the Name do Rage Against the Machine instilando rebeldia e revolta aos promotores capitalista e começando a pichar o local com proffitstock. Exemplo de tomada de consciência espontânea das massas, mesmo em uma era marcada pela indiferença, o vazio e o simulacro, dos escombros da pós-modernidade ressurge restabelecida e renovada a velha e boa luta de classes. Mas também insuficiente diante do festival de agressões às mulheres ocorridas no festival, Jhonatan Davis do Korn definiu bem: “Porra, as mulheres tem o direito de se divertir igual aos homens” e não serem molestadas ao fazerem.


Por fim achei um excelente documentário,  apesar de discordar que foi um desastre total, pois revela o poder bruto e cru do rock e da música quando você insiste em lucrar mesmo que brinque perigosamente com o fogo. Que o rock e a música continuem sendo perigosos…

Fogo neles!!!



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