quinta-feira, 24 de maio de 2007

UFMA ganha uma chance


Reproduzo aqui o texto do Prof. Flávio Reis postado no blog (http://www.franciscogoncalvesreitor.blogspot.com)da campanha de Chico Gonçalves para Reitor da UFMA. Uma análise crua e direta da nossa universidade e a possibilidade de uma guinada.

"Por Flávio Reis

Criada em 1966 como Fundação Universidade do Maranhão, fruto da reunião de faculdades preexistentes, a UFMA aos poucos foi adquirindo um certo ar de elefante branco, uma vasta instituição federal com relações muito frágeis com a sociedade, a região e seus problemas. De forma emblemática, encontra-se encravada numa área que ao longo do tempo aglutinou vasta população pobre, carente de uma série de serviços básicos, com a qual ela pouco interagiu, salvo raras e descontínuas experiências. Alienada da sociedade e sem maiores relações com as esferas dos governos estadual e municipal, a universidade também se constituiu alienando-se de si própria na medida em que sua direção foi apartada da comunidade acadêmica.

Instituição criada no bojo dos planos de expansão do ensino superior no período da ditadura militar, com todos os cerceamentos daí decorrentes, enredada na teia de interesses oligárquicos e temperada inicialmente pela forte presença do Arcebispado, logo delineou-se um circuito de dirigentes cuja seleção passava pelo encastelamento em cargos de vice-reitores, pró-reitores, diretores de centros ou equivalentes. No correr dessas quatro décadas, em dez reitorados descontínuos, construiu-se uma história na qual a disputa em torno da direção da universidade desenvolveu-se num jogo de acomodações entre interesses e “projetos” capitaneados por atores que já haviam se distanciado há tempos do cotidiano da universidade, pouco sabendo de como as coisas ocorrem lá na ponta, nas terríveis salas de aula e nos ambientes sujos, na carência de equipamentos, nos laboratórios insuficientes e bibliotecas bastante defasadas, na falta de motivação que se alastra por um campus cada vez mais esvaziado.

Integrando seu quadro docente há vinte anos, presenciei momentos de intensa disputa pelo comando da reitoria, que foram se desdobrando em controle de áreas inteiras por parte de grupos e nomes cuja permanência se conta em décadas, numa espécie de “feudalização” interna. Marcada pelo rápido inchaço burocrático, pela alienação de sua direção e sob a eterna sombra da ineficiência, a história da UFMA parece uma contínua descida da ladeira cujos exemplos pontuais em contrário nunca configuraram nenhum momento de destaque. Nos últimos anos, intensificou-se mesmo sob vários aspectos a deterioração administrativa, patrimonial e acadêmica, situação em que a gestão atual a encontrou e não conseguiu propriamente reverter. Apesar de algumas melhorias, uma sensação de acefalia corre célere pela UFMA, que vem perdendo continuamente espaço e credibilidade no quadro geral do péssimo ensino superior existente em nosso estado.

Quando o cenário previsível para o processo eleitoral na reitoria parecia caminhar para mais uma daquelas costumeiras disputas entre “reitoráveis”, a grata surpresa: diante da candidatura já colocada do diretor do Hospital Universitário, o atual vice-reitor se viu impedido pela legislação e o titular decidiu não disputar a reeleição, abrindo espaço para uma candidatura fora do circuito usual, a do prof. Francisco Gonçalves, coordenador do curso de Comunicação Social. Nome reconhecido no Maranhão, sua legitimidade está escudada numa história de forte atuação no movimento estudantil, nas lutas pela democracia, em diversos movimentos sociais e pela destacada atuação em âmbito acadêmico, capaz de angariar a confiança e admiração dos três segmentos, traços que se fizeram presentes de forma intensa na festa do lançamento de sua candidatura, no último dia 22. Em meio a depoimentos emocionados uma energia se estabelecia não só entre os professores, alunos e técnicos-administrativos presentes, mas também ex-professores, ex-alunos, integrantes de movimentos sociais, pessoas com vínculos de lutas antigos e variados, todos, a seu modo, vendo na simplicidade altiva e determinada da figura de um professor como tantos de nós a possibilidade de desenhar um caminho diferente, participativo e criativo, capaz de redefinir a triste história desta instituição. A UFMA vive uma situação de extrema urgência e as circunstâncias favoreceram a construção de uma possibilidade frente a qual não cabem vacilações. Que a comunidade acadêmica não perca essa chance!

Flávio Reis é professor de Ciência Política da UFMA."

quarta-feira, 2 de maio de 2007

A luta de classes pós-moderna: Infocapitalistas X ProNETariado









Fábio Malini acaba de disponibilizar na rede a tese de seu doutoramento (http://polimidia.wordpress.com/2007/03/05/curso-de-jornalismo-na-ufes-oferece-disciplina-sobre-web-20/) Intitulada ‘Comunismo da Atenção: liberdade, colaboração e subsunção no capitalismo cognitivo’ a tese declara logo o novo espaço da velha luta de classes: O paradigma das redes distribuídas (redes p2p + Web 2.0) nos força a pensar o problema do antagonismo na produção comunicacional, um embate que se expressa hoje pela luta entre os INFOCAPITAISTAS contra o proNETariado. Os primeiros são os detentores dos modos de criação, produção e difusão dos conteúdos informacionais ditos ‘propietários’ sobre direitos autorais e licenças. São representados pelo que chamamos de Grande Mídia. Por sua vez, o proNETariado é formada por uma nova classe de usuários de redes virtuais capaz de produzir, difuncir, vender conteúdos digitais não propietários (livres). Competem com os infocapitalistas através de produtos e mercados auto-regulados que criam e administram. Informar-se, ouvir música, ler um e-book, são operações cada vez mediadas pela mídia criada pelo proNETariado.

Tive o prazer de ler e utilizar um artigo de Malini para minha dissertação que trata de estratégias de contra-comunicação em rede. Acabei por mostrar demonstrar que a base material da sociedade informacional criou desajustes com a esfera jurídica, especificamente a que protege os Direitos Autorais. Nesse sentido a escola do Marxismo Analítico já havia colocado em 1993, que “a transformação dos direitos de propriedade capitalista constitui base para relações de produção qualitativamente diferentes”. Mostrei, então, que a licença GPL constituiu essa base para a revolução produtiva do Linux. Esses esforços têm mostrado que o pensamento de Marx continua a oferecer nortes para o entendimento de questões atuais e que os seus espectros continuarão assombrando a mente e a vida dos homens (pós) modernos.