sábado, 10 de fevereiro de 2007

Entrevista com Chi Cheng, baixista do Deftones

Chi Cheng, baixista do Deftones, fala das expectativas do segundo show no Brasil, caipirinhas, troca de arquivos na internet, troca de casais entre integrantes da banda, Feiticeira e outras coisas mais. Veja na entrevista concedida ao UOL-Música.


UOL - Vocês acabaram de lançar "Saturday Night Wrist". Esse é o disco no qual vocês experimentaram mais com outras sonoridades?
Cheng - Todos os discos do Deftones são uma evolução e progressão [em relação ao anterior]. É isso que queremos como músicos: desafiar a nós mesmos e progredir musicalmente. O disco anterior, "Deftones", de 2003, é mais linear e "dark". Este novo tem diferentes emoções, com altos e baixos. Talvez por causa do produtor, Bob Ezrin, algumas partes soem quase como Soundgarden ou Smashing Pumpkins, o que acho muito legal.

UOL - Vocês tiveram problemas com o produtor do disco durante as gravações?
Cheng - Não foi um problema meu, foi de Chino [vocalista e guitarrista]. Eu gravei minha partes de baixo em três dias, dentro do prazo.

Chino é muito meticuloso com seu trabalho, quase ao ponto de ser crítico demais com ele mesmo. Ele nunca faz a lição de casa e fica totalmente despreparado. Bob Ezrin gosta que todo mundo tenha sua parte pronta. Quando Chino chegou, achou que Bob diria, "tudo bem, isso está bom". Mas ele disse: "você não tem nada, não quero trabalhar assim". Então havia esse conflito entre eles. Não era uma animosidade terrível, mas o ambiente de trabalho não era dos melhores.

UOL - Como essa tensão afetou o disco?
Cheng - A tensão sempre afeta os álbuns do Deftones de alguma forma. Eu odeio, mas parece ser um mal necessário. Antes de Chino tocar guitarra, havia tensão entre mim e Stephen [Carpenter, guitarrista] em "Around The Fur" [disco de 1997]. Quando Chino passou a tocar, a tensão era entre ele e Stephen, pois Chino gosta de tocar mais tranqüilo, e Stephen, mais pesado. A mistura disso tudo é o que define o Deftones.

Trabalhamos melhor quando apontamos armas para as cabeças uns dos outros e fazemos sexo com as mulheres uns dos outros. Somos disfuncionais. Há algo de errado conosco!

UOL - Há cinco anos vocês eram descritos como um dos principais nomes do nü-metal. Hoje, com canções como "Cherry Waves" e "Mein", que não tem nada de metal, como você vê o Deftones?
Cheng - Como uma ilha, com tudo flutuando ao redor. Enquanto formos sólidos como uma ilha, teremos nossa própria sonoridade e seremos conhecidos apenas como Deftones. É o que sempre buscamos. Nunca quisemos ser categorizados como nü-metal ou qualquer coisa. Tenho muito orgulho por termos atingido nossa própria identidade.

UOL - Esta será a segunda visita de vocês ao Brasil, mas serão os primeiros shows solo. Quais são as diferenças entre o Deftones ao vivo num festival e sozinho?
Chi Cheng - Com certeza o show solo é melhor porque temos tempo para tocar todas as músicas que queremos. É ótimo tocar em festivais, em frente de muitas pessoas, mas você se apresenta por 50 minutos e acabou. Não dá para mostrar realmente o que é a banda. Estamos animados para ir ao Brasil e tocar para um público menor [do que o da primeira vez, no Rock in Rio 3]. Esses serão os primeiros shows de verdade do Deftones no Brasil. Prometo não desapontá-los.

UOL - Vocês pretendem tocar a música "Feiticeira"?
Cheng - Sim! Temos de tocar essa música! Se ela prometer aparecer no show, vamos tocar.

Chino escreveu a música quando estivemos aí da outra vez. Ele a viu na TV e decidiu escrever uma canção. O povo brasileiro é muito bonito.

UOL - Além dos shows, o que mais vocês pretendem fazer por aqui?
Cheng - Eu fui ao Cristo [Redentor] da última vez e gostaria de voltar. Aquele lugar me tocou, achei muito bonito. Tentarei ficar longe das caipirinhas, pois são muito fortes e me deixam bêbado demais. Vou tentar ser mais um turista e ficar longe das festas. Estou mais velho.

UOL - Vocês passaram boa parte da carreira tendo de lidar com a música digital e a troca de arquivos na Internet. Quase dez anos depois, como vocês vêem o assunto hoje?
Cheng - Sempre achamos que você deve usar a Internet a seu favor em vez de brigar com ela. As gravadoras é que estragaram tudo ao tentar combater algo inevitável. Em vez de tornar as coisas mais acessíveis por um pequeno valor, tentaram lutar contra e se deram mal. Com isso, nós nos demos mal também, pois as pessoas baixam o disco sem pagar por ele. Ao mesmo tempo, sua música está sendo compartilhada, que é o motivo de ela existir. E, se alguém baixa uma música sua e gosta, ele vai ao show e lá pode comprar uma camiseta, e acaba comprando o disco. Eu acho a Internet uma coisa boa.