Chi Cheng, baixista do Deftones, fala das expectativas do segundo show no Brasil, caipirinhas, troca de arquivos na internet, troca de casais entre integrantes da banda, Feiticeira e outras coisas mais. Veja na entrevista concedida ao UOL-Música.
UOL - Vocês acabaram de lançar "Saturday Night Wrist". Esse é o disco no qual vocês experimentaram mais com outras sonoridades?
Cheng - Todos os discos do Deftones são uma evolução e progressão [em relação ao anterior]. É isso que queremos como músicos: desafiar a nós mesmos e progredir musicalmente. O disco anterior, "Deftones", de 2003, é mais linear e "dark". Este novo tem diferentes emoções, com altos e baixos. Talvez por causa do produtor, Bob Ezrin, algumas partes soem quase como Soundgarden ou Smashing Pumpkins, o que acho muito legal.
UOL - Vocês tiveram problemas com o produtor do disco durante as gravações?
Cheng - Não foi um problema meu, foi de Chino [vocalista e guitarrista]. Eu gravei minha partes de baixo em três dias, dentro do prazo.
Chino é muito meticuloso com seu trabalho, quase ao ponto de ser crítico demais com ele mesmo. Ele nunca faz a lição de casa e fica totalmente despreparado. Bob Ezrin gosta que todo mundo tenha sua parte pronta. Quando Chino chegou, achou que Bob diria, "tudo bem, isso está bom". Mas ele disse: "você não tem nada, não quero trabalhar assim". Então havia esse conflito entre eles. Não era uma animosidade terrível, mas o ambiente de trabalho não era dos melhores.
UOL - Como essa tensão afetou o disco?
Cheng - A tensão sempre afeta os álbuns do Deftones de alguma forma. Eu odeio, mas parece ser um mal necessário. Antes de Chino tocar guitarra, havia tensão entre mim e Stephen [Carpenter, guitarrista] em "Around The Fur" [disco de 1997]. Quando Chino passou a tocar, a tensão era entre ele e Stephen, pois Chino gosta de tocar mais tranqüilo, e Stephen, mais pesado. A mistura disso tudo é o que define o Deftones.
Trabalhamos melhor quando apontamos armas para as cabeças uns dos outros e fazemos sexo com as mulheres uns dos outros. Somos disfuncionais. Há algo de errado conosco!
UOL - Há cinco anos vocês eram descritos como um dos principais nomes do nü-metal. Hoje, com canções como "Cherry Waves" e "Mein", que não tem nada de metal, como você vê o Deftones?
Cheng - Como uma ilha, com tudo flutuando ao redor. Enquanto formos sólidos como uma ilha, teremos nossa própria sonoridade e seremos conhecidos apenas como Deftones. É o que sempre buscamos. Nunca quisemos ser categorizados como nü-metal ou qualquer coisa. Tenho muito orgulho por termos atingido nossa própria identidade.
UOL - Esta será a segunda visita de vocês ao Brasil, mas serão os primeiros shows solo. Quais são as diferenças entre o Deftones ao vivo num festival e sozinho?
Chi Cheng - Com certeza o show solo é melhor porque temos tempo para tocar todas as músicas que queremos. É ótimo tocar em festivais, em frente de muitas pessoas, mas você se apresenta por 50 minutos e acabou. Não dá para mostrar realmente o que é a banda. Estamos animados para ir ao Brasil e tocar para um público menor [do que o da primeira vez, no Rock in Rio 3]. Esses serão os primeiros shows de verdade do Deftones no Brasil. Prometo não desapontá-los.
UOL - Vocês pretendem tocar a música "Feiticeira"?
Cheng - Sim! Temos de tocar essa música! Se ela prometer aparecer no show, vamos tocar.
Chino escreveu a música quando estivemos aí da outra vez. Ele a viu na TV e decidiu escrever uma canção. O povo brasileiro é muito bonito.
UOL - Além dos shows, o que mais vocês pretendem fazer por aqui?
Cheng - Eu fui ao Cristo [Redentor] da última vez e gostaria de voltar. Aquele lugar me tocou, achei muito bonito. Tentarei ficar longe das caipirinhas, pois são muito fortes e me deixam bêbado demais. Vou tentar ser mais um turista e ficar longe das festas. Estou mais velho.
UOL - Vocês passaram boa parte da carreira tendo de lidar com a música digital e a troca de arquivos na Internet. Quase dez anos depois, como vocês vêem o assunto hoje?
Cheng - Sempre achamos que você deve usar a Internet a seu favor em vez de brigar com ela. As gravadoras é que estragaram tudo ao tentar combater algo inevitável. Em vez de tornar as coisas mais acessíveis por um pequeno valor, tentaram lutar contra e se deram mal. Com isso, nós nos demos mal também, pois as pessoas baixam o disco sem pagar por ele. Ao mesmo tempo, sua música está sendo compartilhada, que é o motivo de ela existir. E, se alguém baixa uma música sua e gosta, ele vai ao show e lá pode comprar uma camiseta, e acaba comprando o disco. Eu acho a Internet uma coisa boa.
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