segunda-feira, 26 de abril de 2010

E AGORA JOSÉ? Mais um golpe sujo aos oitenta?


O nobre e “incomum” senador amapo-maranhense no “pipocar” dos seus textos e em seus patéticos discursos se auto denomina estadista, escritor, democrata, homem de bem, quase santo até nome tem, com uma intocável biografia. Verdade? Mentira. Seu Pasquim da Corte edição 24/04/2010,que o diga.
O senador e descendente de nobres portugueses (descobriu-o o doutor M. Coutinho) é na realidade um atrasado coronel que com ajuda dos generais presidentes, mantêm o estado do Maranhão com todas as características do império/colônia onde capitães do mato, jagunços e vassalos lhe servem, e à sua família na Casa Grande dominando a senzala (o resto do estado). É real e incontestável o desenvolvimento do patrimônio da sua família (milhões de dólares), que é uma das mais ricas do Brasil.
A revista Fórum afirma: “o único critério de verdade é a prática”. Ao se fazer de vítima e atacar a imprensa, revela-se quem verdadeiramente é: reacionário, de extrema direita, exímio mentiroso, rei do tapetão, chantagista e escritor de meia-pataca. Pois “sua fé na sabedoria dos imbecis, na virtude dos desonestos, no sublime idealismo dos sórdidos” (Mencken) é a sua verdadeira face e marca registrada.
Após golpear a democracia e os maranhenses com a farsa da Toga comprada que garantiu a volta da senhora Roseana Murad ao governo,tenta desmoralizar o PT do Maranhão comprando meia dúzia de petistas sem ética, sem votos e sem moral. Ao querer passar que em nome da candidatura de Dilma tudo se explica.
Em recente reunião com sua trinca de senadores: a múmia-ambulante Cafeteira, o dedo-duro Lobão e o “pobre Fecury” afirmou-lhes _ com as secretarias e com dinheiro trago a “banda podre” do PT para nosso lado. Quando indagado por um deles se isto não seria ruim para as candidaturas de Roseana e Dilma, retrucou: passado um mês o povo esquece tudo.
Engana-se o sorumbático oligarca. Por três motivos básicos:
  1. Os hipócritas e fariseus que se venderam não são a maioria do partido. Nem na executiva nem no diretório.
  2. Dos 27 mil filiados do partido no estado só uma dezena participou desta sordidez.
  3. O encontro dos dias 26 e 27 de março é soberano e esta decidido a tática e a estratégia eleitoral é de apoio a candidatura de Flavio Dino para governador e indicar o vice e um senador. Coligado em frente de Unidade Popular: PT, PSB e PCdoB.
É este o motivo do desespero do ultimo oligarca do Brasil.
Portanto seus artigos são grotescos: das mulheres do Irã, passando por questões de sexo, do vulcão da Islândia à bicicleta que o pai não lhe pode dar quando criança, mas Deus já o recompensou com esta pequena fortuna e agora aos filhos, netos, parentes e aderentes... não mais bicicletas e sim mansões, carros, apartamentos, shoppings, TV, rádios e jornais, terras e realçando sua descendência fidalga, um castelo em Sintra-Portugal. É vero.
O doutor Saulo Ramos um dos mais ricos e famosos advogados do Brasil (seu ex-ministro) cuidou dos papéis e do pagamento. É por isso que não esta no nome da família Sarney, tem sempre alguém a frente: os Lobão, os Fecury, os Murad... é grande a lista. Outras famílias foram enganadas como os Aboud e os Marão, em contrapartida os Venizelos-Murad se deram muito bem; a prova é a dupla mais que dinâmica Jorge-Ricardo, o espaçoso ex-gerentão que só falou a verdade uma vez na vida ao denunciar o cunhado Fernando Sarney e a turma da Poli: “o governo para essa gente passou a ser um negocio de família”. -03/08/94. E o Sarney lhe respondeu: “se não existisse Sarney no Maranhão, não existiria Ricardo Murad” F.S.P 09/10/94.
Ulisses Guimarães já dizia: “... esta oligarquia, como toda oligarquia, tudo pode e nada sabe... É indecoroso fazer política uterina em beneficio dos filhos, irmãos e cunhados. O bom político costuma ser mau parente”.
Portanto a prática de golpes baixos e de tentativa de amordaçar e censurar adversários vem de longe. Tentou calar e processar o fundador do JP o saudoso e corajoso jornalista Ribamar Bogéa e seu filho Lourival. Ao seu mando, Fernando fez o mesmo com um jornal que muito lhe ajudou, o conservador Estado de São Paulo, é a natureza do escorpião.
Tentou amordaçar Freitas Diniz, Manoel da Conceição, sua polícia tirou-lhe a perna. Cassou Jackson Lago, persegue implacavelmente quem lhe faz oposição, mas não nos cala. Agora num surto regressivo lembrando o período em que foi um dos próceres da “ditabranda” censura jornais e revistas. É o velho oligarca nu e cru.Ao responder crítica da F.S.P(“Babaçuais ambulantes”),tenta se eximir da responsabilidade pelo atraso do MA,não consegue.Tenta ser erudito dizendo que aqui não é uma cubata(choças africanas) aí só prova seu preconceito e despreparo.Em discursos vazios cita escritores espanhóis e filósofos como Sêneca, só que está mais para Nero o general de Herodes que não poupava nem crianças e depois imperador não poupou Roma,destruindo-a com fogo.
Não há dúvidas, seu fim político se aproxima. É grande o seu desespero, num “jus esperniandis” é o velho leão desdentado, sem o SNI, sem a PF, e sem os milicos . Já não pode tudo.
Está muito rico, pudera, mas lhe falta o principal: postura de estadista e um mandato presidencial pelo voto direto. Seu fardão e seu pijama são equivalentes.Por ser de extrema direita ataca Marx,Lênin e Guevara,tentando distorcer suas teses que continuam atuais,mas não tem estatura para tal.
É despreparado e preconceituoso quando ataca os nordestinos; a esquerda latino-americana a Venezuela e seu povo; ao grande escritor Eduardo Galeano, ao chamar seu livro de panfleto e a nós de cucarachas; ele sim faz panfletos como Brejal dos Guajás, salvo segundo Millor por uma página.Se leu, não entendeu Machado de Assis, Zé Lins, Raquel,Guimarães,Palmério,Gilberto Freire,Amado,Buarque,Carpeuax,Florestan,Caio Prado;os portugueses Alves Redol,Eça,Pessoa,Saramago...,os latinos Cortazar,Carpentier,Borges e Paz,enfim se tivesse lido e aprendido com o seu contemporâneo,este sim político escritor e democrata autor de A Bagaceira- José Américo de Almeida que assim foi saudado na ABL, por Tristão de Athayde : “ E como sois um modelo autêntico de democrata e o hábito não faz o monge/ E por isso, neste epílogo sereno de / uma vida tão nobre e tão embebida/ do nosso povo e da nossa terra../ a mansa despedida de/ uma vida tão fecunda, tão bela, tão vivida.” .
Portanto,nesse memorável Abril que termina após termos em Março derrotado o velho coronel e sua predileta governadora biônica, ao decidirmos que o PT apóia e elegerá Flávio Dino Governador, Bira e José Reinaldo senadores e uma expressiva bancada de federais e estaduais, tarefa árdua porém possível pois teremos do nosso lado o Maranhão que se levanta com mulheres e homens cantando e declamando em voz alta o poema de Nascimento de Moraes,em sua obra Clamor da hora presente: “Poetas,meus irmãos,acompanhai meu grito!Maldigo a resignação infame dos covardes!-Eu prego a rebeldia estóica dos heróis e o Evangelho -A liberdade... É a voz do povo
Quem tiver ouvidos ouça- Quem tiver olhos veja!
Ai de vós,industriais da miséria e da injustiça...Erguei-vos oprimidos e vivei!A luz- o ar, a terra é para todos...A liberdade é a pátria universal!Não mais a vida de escravo...Vossa consciência é vossa....Não precisareis vender por um prato de comida nos dias de eleição...Vossa mulher agora...Criará os novos homens!
Homens!Que ao contemplar o firmamento estrelado exclamarão:Eu vim do infinito!Nasci naquela estrela!”
Ananias Neto
Engº. Agrº. Ex-Vereador,pré candidato Dep. Federal PT

domingo, 25 de abril de 2010

Jornada Estadual de Formação Política do PT do Maranhão foi um grande sucesso


A Jornada Estadual de Formação Política do PT do Maranhão reuniu cerca de 60 militantes de várias cidades do Estado nos dias 24 e 25 de Abril no SESIR do Araçagy. A jornada contou com a participação, como expositores, do professor Francisco Gonçalves, ex-dirigente do PT-Ma, do jornalista Franklim Douglas, também ex-dirigente, de Henrique Sousa e da diretora da Fundação Perseu Abramo Selma Rocha. Selma Rocha é Graduada em História e mestre em História pela USP. Lecionou na Escola de Sociologia e Política de São Paulo e na PUC. Foi assessora da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1989-1996); secretária municipal de Educação de Santo André (1997-2000); presidente do Conselho de Curadores da Fundação Santo André (1997-2000); chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2000-2001); membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo (1996-2003) e Diretora da entidade durante a gestão 2004-2008. Foi consultora da Secretaria Municipal de Educação de Niterói. Os trabalhos foram conduzidos por Genilson Alves Secretário Estadual de Formação Política do PT. Também acompanhou os trabalhos o Presidente Estadual do PT Raimundo Montero.
Foram apresentados três módulos elaborados pela Fundação Perseu Abramo que serviram como referência para a exposição dos conteúdos. O módulo I conhecer o que foi feito para melhor prosseguir, ficou à cargo de Francisco Gonçalves que apresentou a linha do tempo de construção nacional do PT apresentando elementos da história do PT, concepção, resoluções fundamentais e funcionamento. Franklin Douglas apresentou elementos para a construção da linha do tempo estadual enfocando as bases sociais do que viria a se tornar as diversas gerações da militância petista no estado. Nesse sentido apresentou as vinculações do PT com o movimento estudantil, com os trabalhadores rurais, com os sindicatos, com as comunidades eclesiais de base da igreja, e com os intelectuais.
O módulo II governando sem medo de ser feliz apresentado por Henrique Sousa discutiu o projeto nacional do PT, a política internacional, elementos dos programas de governo desde 1989 e um breve balanço do governo Lula. Os grupos de trabalho discutiram e apresentaram sínteses das ideias chaves discutidas bem como avaliações sobre o momento político do PT estadual.
Selma Rocha, diretora da Fundação Perseu Abramo apresentou o terceiro módulo intitulado Semeando o Brasil que queremos enfatizando sobretudo o caráter estratégico que a formação política têm para a concepção do PT enquanto um partido de esquerda, socialista e democrático. Nesse sentido a qualificação da militância petista para o debate de ideias e disputa de posições para a construção de uma hegemonia social de caráter petista é fundamental, bem como resgatar o próprio fundamento do fazer político como uma atividade nobre, não submetida aos vícios caros à cultura política brasileira.
No domingo, dia 25, o coletivo de formação elaborou um plano de ação para Jornadas Regionais e Municipais de formação. A meta mínima estabelecida é que os cursos de formação atinjam 10% dos filiados do estado ou seja, 2.700 filiados. Constituiu-se seis regionais que programaram 13 cursos à serem realizados nas datas 14/15 de Maio ou 29/30 ou 04/05 de Junho. A região metropolitana que engloba a grande ilha e municípios próximos realizará nos dias 29 e 30 de maio, mantendo a estrutura básica da programação, e priorizando a participação de filiados dos municípios que não estiveram presentes na jornada estadual.
Ao final da Jornada o secretário de formação Genilson Alves fez uma avaliação muito positiva dos resultados alcançados enfatizando o esforço dos presentes em construir um momento fundamental para a organização do partido no estado em detrimento das dificuldades pessoais de cada um. Selma Rocha, visivelmente emocionada, lembrou que, apesar do importante momento político que vive o estado de São Paulo, com o lançamento da candidatura de Mercadante ao governo estadual paulista e Marta ao Senado, a sua presença em São Luís para esta atividade de formação foi parte fundamental da construção da unidade do PT. O coletivo se reuniu para tirar a foto oficial do grupo.

Bruno Rogens – Militante do PT


sábado, 24 de abril de 2010

140 anos do nascimento de Lênin



Neste dia 22 de abril comemoramos o aniversário de Vladimir Ulich Ulianov, Lênin. A 140 anos nascia na Rússia czarista o maior dirigente do proletariado, o homem que, segundo as palavras de Trotsky, “sem sua presença física não haveria Revolução de Outubro”. Sua morte precoce não apagará nunca no coração de todos os revolucionários a mais profunda admiração por nosso querido camarada, dirigente e, junto de Marx, Engels e Trotsky, o maior revolucionário de todos os tempos. Leia a seguir um pequena homenagem de Pablo Neruda.

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Alguns homens foram só estudo,
Livro profundo, apaixonada ciência,
e outros homens tiveram
como virtude da alma o movimento
 
Lênin teve duas asas:
o movimento e a sabedoria.
Criou no pensamento,
decifrou os enigmas,
foi rasgando as máscaras
da verdade e do homem
e estava em toda parte,
estava ao mesmo tempo em toda a parte.
 
……………………………………..
Obrigado, Lênin,
pela energia e a lição,
pela firmeza,
obrigado por Leningrado e as estepes,
obrigado pela batalha e pela paz,
obrigado pelo trigo infinito,
obrigado pelas escolas,
obrigado pelos teus pequenos,
titânicos soldados,
obrigado pelo ar que respiro na terra
que não se parece a outro ar;
é espaço fragrante,
eletricidade de enérgicas montanhas.
Obrigado, Lênin,
Pelo ar e o pão e a esperança.
PABLO NERUDA

sábado, 17 de abril de 2010

Educação e democracia na trajetória de Florestan Fernandes


Por Eliane Veras Soares*

"A grandeza de um homem se define por sua imaginação. E sem uma educação de primeira qualidade, a imaginação é pobre e incapaz de dar ao homem instrumentos para transformar o mundo"
(Florestan Fernandes)

O tema "educação e democracia" talvez seja aquele, entre os selecionados para este seminário, que suscita de maneira mais contundente a dialética do cientista e do político presente na trajetória de Florestan Fernandes.
José de Souza Martins prestou uma bela homenagem a Florestan Fernandes (e a todos que somos seus admiradores) com o texto "Vida e história na sociologia de Florestan Fernandes". Martins afirma que para Florestan Fernandes "há sempre uma espécie de processo educativo permanente nas relações sociais em crise" e que teria sido este fator que o levou a se interessar pela educação e pelo estudo sociológico dos processos educativos. Proponho aqui analisar de modo breve a dimensão que a educação assumiu nas diversas etapas da vida de Florestan Fernandes até chegarmos ao último período no qual desenvolveu suas posições frente à Assembléia Nacional Constituinte e ao Congresso Nacional.
Podemos dizer que o lugar da educação na trajetória de Florestan Fernandes é crucial, fundamental. Ela surge já na infância, quando o menino Florestan ainda era chamado por sua madrinha de Vicente. Foi Dona Hermínia Bresser de Lima quem literalmente colocou o lápis na mão do pequeno Florestan. O convívio com esta família burguesa revelou ao futuro sociólogo que o mundo não se restringia ao universo dos cortiços nos quais vivia, mas que havia algo muito além do fundo do poço no qual ele e seus companheiros de rua se encontravam. Florestan abandonou a escola antes de completar a terceira série primária, mas já adquirira os padrões mínimos da curiosidade intelectual e do interesse pela leitura, bases que possibilitaram posteriormente, mediante a realização do curso madureza, seu ingresso na Universidade de São Paulo. A passagem pelo Ginásio Riachuelo funcionou como uma espécie de ressocialização e, ao mesmo tempo, como ponte para uma novo patamar de realizações:
"Se não era uma comunidade-escola tínhamos uma escola-comunidade, sob o seu impulso, a minha imaginação se abriu para além do imediato, do cotidiano e para os grandes problemas da literatura, da filosofia e da época [...] fugíamos das limitações intrínsecas à escola secundária brasileira, completando o ensino que recebíamos, aliás de bom nível em termos relativos, pela improvisação de uma fraternidade de estudantes voltados para a sistematização e intensificação dos estudos".
O ingresso de Florestan Fernandes na Faculdade de Filosofia representou um marco, tanto para sua vida profissional e pessoal, quanto para a instituição e, em especial, para as ciências sociais. Para superar suas deficiências e lacunas intelectuais, Florestan tornou-se um estudante ímpar, totalmente dedicado ao curso, impondo a si mesmo uma rígida disciplina de trabalho:
"De princípio as coisas não possuíam muita clareza para mim. Mas já no segundo ano do curso eu sabia muito bem o que pretendia ser e me concentrara na aprendizagem do ofício – portanto, não me comparava ao bebê, que começa a engatinhar e a falar, porém ao aprendiz, que transforma o mestre artesão em um modelo provisório."
Em pouco tempo ele mesmo passara a ser o modelo, o mestre. Superada a fase de formação pessoal, Florestan ingressa em um novo patamar de formação: o institucional. Como catedrático da cadeira de Sociologia I realizou sua maior obra de formação: constituiu um grupo de pesquisadores, de cientistas sociais, que marcou definitivamente o desenvolvimento das ciências sociais no Brasil e criou uma escola de interpretação dos problemas nacionais. Dialogando com os clássicos da sociologia (e também dos demais ramos das ciências humanas) Florestan Fernandes procurou refinar os métodos de investigação e análise para produzir um conhecimento mais profundo, um conhecimento radical da realidade brasileira. Neste desbravamento sociológico formulou vários conceitos que permanecem válidos nos dias de hoje. Entre eles encontra-se a definição do dilema educacional brasileiro, desenvolvida nos anos 50.
"[...]Como ocorre em outros países subdesenvolvidos, ele é de fundo institucional. O sistema educacional brasileiro abrange instituições escolares que não se ajustam, nem qualitativa nem quantitativamente, a necessidades educacionais prementes, que são compartilhadas em escala nacional ou que variam de uma região para outra do país. Daí ser urgente e vital alterar a estrutura, o funcionamento e o modo de integração das instituições. O aspecto prático do dilema revela-se neste plano: o reconhecimento dos problemas educacionais de maior gravidade e a realização dos projetos de reforma educacional esbarram, inelutavelmente, com diversos obstáculos, do apego a técnicas obsoletas de intervenção na realidade à falta de recursos para financiar até medidas de emergência. Em resumo, o referido dilema possui dois pólos, ambos negativos: primeiro, instituições deficientes de ensino, que requerem alterações complexas, onerosas e profundas [...] Segundo, meios de intervenção insuficientes para fazer face, com expectativas definidas de sucesso, às exigências práticas da situação[...] A esse respeito, o Brasil está em posição análoga à dos demais países subdesenvolvidos, a qual conduz ao mais completo e perfeito círculo vicioso que a mente humana pode conceber."
Já em 1954, em um texto denominado "A educação como fator de integração política", Florestan aborda o problema da perspectiva do estabelecimento de uma ordem social democrática no país e o papel da educação neste processo:
"[...] a intervenção do Estado, com propósito definido de ajustar o sistema educacional brasileiro às necessidades mais urgentes da vida política nacional, poderia alcançar dois efeitos presumíveis. Primeiro, criar condições dinâmicas essencialmente favoráveis à transição de uma ordem democrática incipiente para uma ordem democrática plenamente constituída (...). Segundo, concorrer ativamente para que essas condições dinâmicas se reproduzam similarmente, provocando efeitos socializadores relativamente uniformes, nos diferentes tipos de comunidades brasileiras [...] Enfim, toda a argumentação desenrolada tenta mostrar que um dos fatores que prejudicam o desenvolvimento da democracia no Brasil é a persistência de uma mentalidade política arcaica, inadequada para promover ajustamentos dinâmicos não só a situações que se alteram socialmente, mas que estão em fluxo contínuo no presente. A contribuição que a educação sistemática pode oferecer para alterar semelhante mentalidade exprime, naturalmente, as tarefas políticas que ela pode preencher em uma esfera neutra. O problema poderia ser encarado de outras perspectivas, como os interesses das classes sociais, as afiliações partidárias, os conflitos sociais em uma sociedade em mudança para nova forma e organização econômica, etc. Limitamo-nos à relação escolhida, entre o sistema educacional como um todo e as necessidades educativas de uma comunidade política nacional porque ela convinha melhor à natureza do tema do presente estudo. Contudo, ao assinalarmos que a educação pode preencher funções construtivas na vida social, não pretendíamos insinuar que isso se faria independentemente da opção de outros fatores ou acima deles. Apenas acreditávamos que, assim, locarizaríamos concretamente quais são as influências criadoras que a educação poderá exercer na elaboração sócio-cultural de uma ordem social democrática no Brasil."
No início dos anos 60, com a eclosão da Campanha em Defesa da Escola Pública, Florestan Fernandes experimentou uma sorte de reencontro com seu passado. O sociólogo não estava apenas desvendando os dilemas da realidade ou colocando seu conhecimento à serviço da racionalização do sistema de ensino face às necessidades do desenvolvimento do país,
"tudo se passou como se me transformasse, de um momento para outro, em porta-voz das frustrações da revolta dos meus antigos companheiros de infância e juventude. O meu estado de espírito fez com que o professor universitário falasse em nome do filho da antiga criada e lavadeira portuguesa, o qual teve de ganhar a sua vida antes mesmo de completar sete anos, engraxando sapatos ou dedicando-se a outras ocupações [...]. Nesse sentido, assumi nos debates travados uma posição análoga à que Patrocínio desempenhou nas lutas abolicionistas, descontados naturalmente os coeficientes históricos e pessoais. [...] Como ele, coube-me o dever de levar ao mundo cultivado do Brasil as angústias, os sentimentos e as obsessões dos esbulhados, e honro-me ao lembrar que não trepidei, por um instante, diante dos imperativos deste dever. Professor, sociólogo e socialista – não foi de nenhuma dessas condições que extraí o elemento irredutivelmente inconformista, que deu sentido à participação que tive na Campanha de Defesa da Escola Pública".
Nos anos 60, uma série de fatores irão contribuir para uma radicalização do pensamento sociológico de Florestan Fernandes em relação ao marxismo. Um deles é a surgimento do grupo de estudos de Marx formado pela nova geração de cientistas sociais, filósofos e historiadores que Florestan Fernandes ajudara a formar. Excluído do grupo antes de tudo por sua própria posição de mestre, Florestan nem por isso ficou à margem do que estava acontecendo, como ele mesmo afirma: "Diante de um grupo orgânico de sociólogos-pesquisadores, os quais se dispunham a interpretar o Brasil e a periferia do mundo capitalista à luz de novas categorias sociológicas, que precisava refazer as minhas metas para ter o direito de continuar à testa do grupo [...] Eu tinha de recomeçar, gostasse ou não, reciclando a minha concepção de sociologia e redefinindo o que eu vinha admitindo como sociólogo [...] Eu era obrigado a penetrar mais a fundo na compreensão do elemento positivo intrínseco à sociologia como ciência, despojando-me, de modo crescente, de resíduos deixados por uma longa contaminação naturalista, ligada principalmente ao período de aprendizagem e aos começos de minha formação sociológica. O que fizera, no sentido de livrar-me desses resíduos, através de Mannheim, da primeira leitura de Marx e de outros autores, mostrava-se insuficiente e ia ficando cada vez mais para trás"
Longe de ver em Florestan Fernandes um adesista ao paradigma marxista proponho uma interpretação que leve em consideração a convergência de diversos fatores que o levou à maturação de um novo referencial teórico. No plano acadêmico destacam-se: a mudança da temática a partir do estudo sobre os negros e, em especial, com os projetos de pesquisa que foram desenvolvidos por meio do CESIT, colocando-o frente a frente com os problemas sociais emergentes; e as transformações na dinâmica intelectual promovida pela nova geração. No plano de suas relações com a sociedade podemos citar a participação na campanha em defesa da escola pública, que abriu espaço para a descoberta da possibilidade real do cientista social interagir com os movimentos sociais; e o envolvimento posterior, com o movimento em favor da reforma universitária. Por fim, o último elemento está vinculado à própria dinâmica do processo histórico que culminou com o seu afastamento compulsório da universidade.
Barbara Freitag defendeu em 1986 a tese da existência de uma ruptura epistemológica na obra de Florestan Fernandes. À luz deste argumento analisou a posição de Florestan Fernandes diante da universidade e da democracia nos dois momentos que caracterizariam o antes e o depois da referida ruptura, isto é, o período acadêmico-reformista e o período político-revolucionário. Sem aderir à tese da ruptura, a qual utilizei como ponto de partida para análise da trajetória política de Florestan Fernandes, gostaria de expor a síntese que a autora faz das duas fases de Florestan Fernandes, no que tange à função da universidade e sua relação com a democracia, para em seguida chegar às últimas elaborações de Florestan em seus últimos escritos sobre a reforma e a revolução na educação.
Segundo Barbara Freitag, Florestan Fernandes considerava no primeiro momento, que corresponderia ao período dos anos 40 aos anos 60, a universidade como pólo dinâmico capaz de revolucionar a sociedade. No segundo momento, após o golpe militar de 1964 e a sua exclusão da universidade, mediante o Ato Institucional nº 5, em 1968, vê na sociedade o espaço onde se originam as forças que vão acabar revolucionando a universidade. Ainda segundo a autora, na primeira fase
"Florestan atribuía à universidade dois papéis fundamentais, o da democratização das elites e o da produção de ciência e tecnologia para promover o desenvolvimento econômico e a modernização da sociedade. Acreditava que o Estado, assumindo sua função de Estado educador, poderia ser o grande agente das mudanças estruturais e institucionais, assegurando educação gratuita a todos nos três níveis do ensino, autonomia, liberdade e financiamento adequado às universidades, para que elas efetivamente se transformassem em centros de cultura, inovação científica e modernização tecnológica."
Na segunda fase, Florestan Fernandes
"desloca para fora da universidade o centro dinâmico das transformações. Passa agora a ver na revolução proletária, nos termos clássicos de Marx e Engels, a força histórica capaz de revolucionar a sociedade e de engendrar, também, nas universidades, transformações radicais no Brasil."
Embora a ênfase dada por Florestan à transformação social, seja em certa medida reformista, quando enfatiza o papel da universidade na conquista de uma verdadeira soberania nacional, e revolucionária, quando passa para o plano político mais amplo em defesa da revolução social e transformação total da universidade fundamentada em valores socialistas, podemos constatar a permanência da primeira visão no discurso político de Florestan na sessão da Câmara dos Deputados em 18/03/93:
"O Brasil é um país que importa conhecimento, tanto na área da cultura letrada, quanto na área da tecnologia avançada. [...] assim como negligenciamos nossos outros problemas fundamentais, deixando que as nações dominantes, as ricas e poderosas, vendam pacotes educacionais, tecnológicos, de conhecimento científico básico, de conhecimento filosófico e pedagógico e por aí afora ao nosso país. Muitos destes conhecimentos poderiam ser descobertos aqui. Não precisaríamos mendigar a colaboração de países avançados se tivéssemos dado a atenção devida aos problemas do ensino de alta qualidade."
Na verdade Florestan Fernandes não só avançou em sua concepção sobre a educação mas também conservou suas preocupações iniciais, uma vez que considerava que as reformas republicanas, burguesas, enfim, democráticas da educação nacional ainda não haviam sido atingidas. Costumava dizer que nos anos 80 e 90 ainda lutávamos (e lutamos) por ideais republicanos do século XIX. Isso graças às elites que se colocam até hoje contrárias a uma verdadeira revolução democrática no campo educacional.
Para Florestan Fernandes isso se justifica pelo fato de as classes dominantes não poderem "ceder terreno no campo da educação escolarizada sem arriscar-se a permitir que as classes trabalhadoras, os estratos radicais ou proletarizados das classes médias ganhem acesso a técnicas de controle, de competição, de conflito que ameaçam de maneira crescente os que mandam."
A conseqüência disso é a institucionalização da exclusão por meio da educação, revelando, assim, sua faceta antidemocrática:
"O aparato institucional da educação escolarizada é, por isso, excluidor e colide com os princípios de distribuição igualitária e democrática das oportunidades educacionais. [...] As portas se abrem no ensino fundamental, para se fecharem sem tréguas no ensino médio e superior. Os pobres e humildes, os estigmatizados pela raça e etnia (como os negros, os mulatos e os indígenas), os excluídos e marginalizados (como os despossuídos do campo, os favelados, os sem-teto, os prostituídos, os menores abandonados e violentados etc.), vítimas do isolamento e extrema opressão secular, sequer aprendem a necessidade e o valor da educação escolar."
Assim a resistência das elites produz a fetichização da educação:
"alardear o amor à educação desvincula-se da devoção ao ensino propriamente. A educação eclode como o seu contrário, mistificando-se, comercializando-se, alienando-se de seus fins específicos. Como um fetiche, ostenta um valor e encerra outro e ao negar suas aparências afirma um contravalor que sofre apropriações espoliativas. O circuito educacional fecha-se, assim, à imensa maioria: é uma deturpação pedagógica normal ou natural. Na cúpula do processo, que se irradia da sala de aula à escola, sobrepõe-se um aparato institucional complexo, que articula entre si a família, a empresa de ensino ou o ensino público, múltiplas instituições da sociedade civil empenhadas em aferir o valor do ensino e em aproveitar os seus produtos, e o poder público."
Todos os elementos referidos na definição do dilema educacional brasileiro feita no final dos anos 50 permanecem na análise que Florestan nos apresenta nos anos 90, confirmando sua análise de que o próprio sistema de ensino em lugar de "acelerar a difusão e o fortalecimento dos ideais de vida, consagrados legalmente, interfere no processo como fator de demora cultural."
Deste modo, continua denunciado, no plano micro, a dissociação entre conteúdos e formas pedagógicas que benefícia os "alunos favorecidos por ‘boas’ correlações entre situação social e riqueza da família e a educação como um sistema de mores e de distribuição igualitária de oportunidades educacionais." Enquanto isso, no plano macro, sintetiza o dilema em sua versão mais perversa:
"O Brasil ficou dividido entre uma geopolítica militar e uma concepção educacional tacanha, que só concedeu prioridades retóricas à educação popular. Condenou-se a ser uma nação periférica associada, presa a determinações da dominação externa, sob as diversas manifestações modernas de imperialismo. [...] desterrou o homem do ser, desumanizando a pessoa [...]"
Diante desta realidade Florestan Fernandes coloca para o Partido dos Trabalhadores tarefas fundamentais no plano educacional:
"O PT só pode encarar a educação de uma ótica socialista. O que quer dizer, vê-la de uma perspectiva de classe [...] com isso, não se trata de conceber a educação de uma forma particularista. Ao contrário, trata-se de tomar a totalidade: educação-sociedade de classes em um dado momento histórico [...] Uma visão dialética não se constrói a partir de um todo abstrato. Ela pressupõe um todo concreto, que permita apanhar as contradições como premissas empíricas." E continua: " A dominação de classe, em nosso país, envolve duas dimensões simultâneas e igualmente democráticas: uma parte do capital e uma parte (a maior) da burguesia é interna, nativa; outra parte do capital (a maior) e outra parte da burguesia é externa, estrangeira. O que a escola e a educação reproduzem é a ordem social de uma sociedade capitalista associada e dependente. A prática pedagógica conformista e corrente, que se estrutura e se dinamiza através da dominação de classe, aparece exteriormente como ‘burguesa’, porém possui uma essência imperialista."
Na última fase de sua vida, quando militou no Partido dos Trabalhadores, foi deputado constituinte e deputado federal, Florestan Fernandes substituiu o slogan "educar para uma sociedade em mudança" pelo slogan "educação para a liberdade", definindo-a como
"ruptura socialista com a exlcusão e a marginalização do proletariado na esfera do ensino [...] confere prioridade à maioria real não como "objeto", mas como sujeito de atividades pedagógicas, que se voltem para os conteúdos socialistas da consciência social de classe dos trabalhadores e para a desobjetificação do trabalhador. Educação e auto-emancipação coletiva dos trabalhadores colocam-se como co-determinantes de uma relação recíproca medida pela escola e inspirada na função natural da classe trabalhadora de negar revolucionariamente a sociedade existente."
Em 1994, num depoimento sobre Fernando de Azevedo, Florestan afirma:
"feita a revolução nas escolas, o povo a fará nas ruas, embora essa vinculação não seja necessária. Na China, em Cuba, na Rússia, sem passar pela escola, o povo fez a revolução nas ruas. Mas, em um país como o Brasil é necessário criar um mínimo de espírito crítico generalizado, cidadania universal e desejo coletivo de mudança radical para se ter a utopia de construir uma sociedade nova que poderá terminar no socialismo reformista ou no socialismo revolucionário. Eu prefiro a última alternativa. Fernando de Azevedo optaria pela primeira. Ambas são alternativas que nos põem no fluxo da história, embora eu não tenha a mesma relação de vontade, de poder, que ele possuía: ser uma expressão histórica das forças intelectuais na sociedade brasileira."
No prefácio de "O Desafio educacional", escrito em 1989, Florestan Fernandes afirma que o livro é constituído de artigos que focalizam "aspectos da erupção de um vulcão que parecia extinto" e chama a atenção para o fato de que o mais importante "não é a opinião do autor, mas o contexto histórico, os problemas e dilemas educacionais, as contradições pedagógicas de uma sociedade capitalista periférica tensionada por processos históricos que requerem o socialismo." Neste momento a questão crucial é colocar os trabalhadores, excluídos e oprimidos no sistema escolar, em suas palavras:
"o principal desafio socialista na esfera educacional é ainda calibrado pelas ‘reformas burguesas da educação’, que os pioneiros não conseguiram viabilizar [...] No limiar da nova era, o Brasil marcha para o socialismo ou para a fragmentação interna. A pedagogia volta a ser a chave para a decifração do nosso enigma histórico. O que a Constituição negou, o povo realizará. Mas ele não poderá fazê-lo sem uma consciência crítica e negadora do passado, combinada a uma consciência crítica e negadora do futuro. E essa consciência, nascida do trabalho produtivo e da luta política dos trabalhadores e dos excluídos, não depende da ‘educação para um mundo em mudança’, mas sim da educação como meio de auto-emancipação coletiva dos oprimidos e da conquista do poder pelos trabalhadores".
Para finalizar esta reflexão sobre o tema educação e democracia em Florestan Fernandes gostaria de lembrar a obra de Nobert Elias sobre Mozart intitulada "Mozart, sociologia de um gênio". Segundo Elias "para se entender alguém, é preciso conhecer os anseios primordiais que este deseja satisfazer. A vida faz sentido ou não para as pessoas, dependendo da medida em que elas conseguem realizar tais aspirações." A vida de Mozart é analisada como uma tragédia. A tragédia do gênio que "simplesmente desiste" diante do fracasso: "Sem dúvida alguma, [Mozart] morreu com a sensação de que sua existência social fora um fracasso. Falando metaforicamente, morreu pela falta de significado de sua vida, por ter perdido completamente a crença de que seus desejos mais profundos seriam satisfeitos". Ele simplesmente desistiu. "Os dois fatores que privaram de sentido a vida de Mozart – a perda do reconhecimento do público e o arrefecimento do afeto da esposa – ligavam-se entre si. Eram duas camadas inseparáveis, interdependentes, no sentimento de vazio que o dominou em seus últimos anos."
Sobre Florestan Fernandes poderíamos dizer exatamente o oposto: ele simplesmente resistiu! Resistiu durante toda a sua vida, é um exemplo paradigmático daqueles que, diante de todas as dificuldades e adversidades, conseguem transformá-las em forças propulsoras da superação. Sua história de vida atesta isso. Oriundo da camada mais pobre da população - ‘os de baixo’, como costumava dizer – Florestan Fernandes foi um vitorioso, um homem que conseguiu realizar, em boa medida, os seus desejos. "Florestan traz, além da noção, a práxis de uma cultura de resistência."
Isso graças à força do gênio, aquele que reúne as melhores qualidades e as desenvolve plenamente (ou quase). Se Mozart estava à frente de seu tempo, Florestan estava totalmente imerso nele, buscando no passado as raízes da explicação do presente e neste empreendendo ações voltadas para o futuro. Florestan, em sua modéstia, revelava a grandeza dos seus ideais, dizendo que tudo o que fazia parecia para ele ainda muito distante do que realmente tinha em mente. Como o que realizava sempre foi reconhecido como momumental, expoente máximo de uma dada circunstância histórica, podemos fazer uma idéia do quão grandiosos eram seus verdadeiros propósitos. Um deles, que está diretamente ligado a este debate, era o desejo de que todos os homens tivessem uma educação de qualidade que os levasse a superar a heteronomia e conquistar a autonomia moral, intelectual, criando condições efetivas de luta pela superação da miséria humana. O socialismo surge como fim, enquanto a educação ocupa a função de meio, meio revolucionário no qual a dinâmica cultural da sociedade se realiza.

* Eliana Veras Soares é Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. Autora de Florestan Fernandes, o militante solitário (1997)

domingo, 11 de abril de 2010

Encontro do PT do Maranhão derrota oligarquia Sarney e abre perspectivas de vitória para a esquerda no estado



      Foi uma vitória para lavar a alma da esquerda maranhense. O encontro de definição de tática eleitoral 2010 do PT do Maranhão derrotou o governo ilegitimo de Roseana Sarney (PMDB) e decidiu por coligação pela esquerda com PCdoB e PSB. O encontro teve abertura na sexta feira à noite. Para a abertura do encontro vieram José Eduardo Dutra e Paulo Frateschi, Presidente Nacional e Secretário de Organização Nacional respectivamente. Dutra chegou em São Luís por volta das 15:00 da sexta e foi direto à sede do governo estadual para conversa reservada com Roseana Sarney, a impressão que se teve é que estava trabalhando pela costura das articulações finais que garantiriam a vitória da tese pró-PMDB. Em seguida participou de uma reunião com os delegados da CNB e depois, já pelas 18:00 com os delegados da tese pró-PCdoB.
          Mais cedo em plenária dos delegados da CNB, sem a presença de Eduardo Dutra, houve rebelião de delegados vinculados à FETAEMA (Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Marahão) que afirmaram ser impossível realizar aliança com a oligarquia Sarney. A plenária da CNB deliberou que marcaria uma conversa com Flávio Dino no sábado pela manhã. Essa informação animou muito nossos delegados.
         No local do encontro, militantes da CUT-Ma distribuíam carta aos delegados enfatizando o sentimento do conjunto dos trabalhadores por mudanças na política do estado. O encontro começou com uma mesa formada pelo presidente estadual Raimundo Montero, pelo presidente nacional Eduardo Dutra, pelo secretário Frateschi, pelos Deputados Estaduais Valdinar Barros e Helena Heluy, Whashington Oliveira, Flávio Dino e Manoel da Conceição. O presidente Eduardo Dutra enfatizou em sua fala os méritos da política do governo Lula e a continuidade dessa política com a eleição de Dilma. Helena Heluy contrariando expectativas fez uma fala enfocando a necessidade de mudanças. Isso enquanto seu filho, José Antônio Heluy, Secretário do governo ilegitimo de Roseana, no plenário, era um dos mais entusiasmados com a tese pró-família Sarney.




 A fala mais convincente foi a de Manoel da Conceição que afirmou que depois do confronto armado com pistoleiros e jagunços no interior do Maranhão, confronto esse que resultou na amputação de sua perna (“minha perna é minha classe” famosa frase de Mané), jurou que lutaria até o fim de sua vida pela emancipação do trabalhador rural e contra o latifúndio representado pela família Sarney. Mané arrancou aplausos emocionados e gargalhadas ironizando a defesa de posição táticas absurdas.
        Após o encerramento do primeiro dia de encontro as discussões informais se seguiram pela noite. Discutiu-se as estratégias de plenário que se dariam no dia seguinte, quais pontos emendar no regimento, indicação de nomes para composição da mesa de trabalho e nomes para a mesa de credenciamento. Havia uma desconfiança muito grande quanto a hipótese de voto fechado pois se acreditava que as chances de traição e compra de delegados seriam muito grandes. Firmou-se uma convicção de que o voto aberto seria menos arriscado para nossa estratégia. Sabíamos que haveria traições dos dois lados. Do lado de lá pela posição ideológica de alguns delegados da CNB que não aceitavam coligação com Sarney. Do lado daqui de delegados fragilizados pelas suas condições materiais e facilmente vulneráveis ao abuso do poder econômico. Decidimos que era hora dos delegados se exporem e assumirem as responsabilidades pelo seu voto. Resultado: o voto aberto foi aprovado em plenário. Márcio Jardim foi para a mesa de coordenação dos trabalhos junto com Raimundo Montero e Mundico Teixeira (delegado de caxias defensor da tese pro-sarney). Bembem ficou na coordenação da bancada de delegados no Plenário. Eu fui para o credenciamento junto com Paulo (da Unidade Petista). Jomar, Terezinha, Domingos Dutra, Franklim Douglas e outros companheiros foram escalados para fazer defesa da tese.
         Nossa estratégia se mostrou acertada quando prevíamos que as traições do lado de lá seriam ideológicas. 4 delegados da CNB votaram conosco e 2 da chapa de José Antônio Heluy também. Não houve nenhuma traição nossa para o lado de lá. Houve também uma abstenções e dois delegados que sumiram.
        A votação foi nominal com a entrega de crachás para representantes das duas teses. A nossa entregue à Manoel da Conceição. A pró-Sarney entregue à Evandro Sousa (segundo consta, assessor de Chiquinho Escórcio – espécie de faz tudo do Sarney). Durante a votação delegados da CNB, notadamente Ney Jefferson de Caxias e outros, fizeram um corredor polonês impedindo que os delegados da CNB posicionados à direita no plenário se dirigissem em direção até Manoel da Conceição para entregar-lhe o crachá. Essa manobra foi denunciada por Márcio Jardim na mesa quando se iniciou uma disputa por espaço no plenário para desfazer o corredor polonês. Os ânimos se acalmaram mas voltou à se acirrar quando de forma imbecil tentaram tomar crachás das mãos de Manoel da Conceição. Se acirrou novamente quando um delegado da CNB foi se abster entregando o crachá à Raimundo Montero, no centro da mesa, quando a tropa de choque da CNB tentaram forçar o entendimento que o mesmo havia sido entregue à Evandro. Prevaleceu a vontade do delegado, abstenção de voto. Ao final se confirmou nossa vitória por dois votos de diferença. 87 à 85. Após comemoração emocionada e efusiva do nosso campo. Paulo Frateschi afirmou As regras foram seguidas, tem uma proposta vencedora e é com essa que o partido dos trabalhadores vai trabalhar”.
Ao final do encontro Flávio Dino fez um discurso afirmando dentre outras coisas que aquela era uma vitória que representa a vitória do primeiro turno das eleições estaduais. Dedicou a vitória a Manoel da Conceição que foi aclamado aos gritos de “Mané, Guerreiro, do povo brasileiro!”


       Na segunda-feira seguinte Flávio Dino concedeu entrevista coletiva e convidou a direção estadual do PT. Perguntado sobre como avalia o governo Roseana Sarney, afirmou que se “vê muitas placas (publicitárias) espalhadas pela cidade” . O jus espeniandi começou logo em seguida com informações dando conta da indignação de Sarney e manobras junto à lideranças petistas para alteração do resultado do encontro. Grupamentos mais à direita de Whashington Oliveira na CNB prepararam recurso que será julgado pelas instâncias nacionais do partido. Não há nada do ponto de vista da legalidade petista (estatuto, resolução do 4º Encontro Nacional do PT, regulamento do encontro de tática) que autorize a alteração do resultado do nosso encontro.
        Agora trabalha-se pela construção da unidade interna. Roseana e José Sarney continuarão à pressionar para que o PT maranhense ingresse na administração estadual como forma de vincular sua imagem à da candidata do PT ao Planalto, Dilma Roussef bem como ao prestígio do presidente Lula. Caberá aos defensores derrotados em encontro escolher entre o caminho da construção da tao sonhada unidade partidária com claras perspectivas de vitória eleitoral em outubro próximo, se tornando protagonista do movimento de mudanças políticas em curso no estado ou se escolherão entrar no governo e na campanha de Roseana+Dilma pelas portas dos fundos do Palácio dos Leões e de forma desavergonhada contribuir para a perpetuação de um poder dinástico que aprofundará a miséria e a pobreza do povo maranhense.

Bruno Rogens – campo Unidade Petista do PT do Maranhão

sábado, 10 de abril de 2010

Delegado da CNB (tendência do Lula e do Zé Dirceu) do Maranhão explica por que votou contra a aliança com o PMDB de Roseana Sarney


O texto abaixo é a resposta do vereador Francisco Domingos (conhecido como Bilú) ao post do Jornalista Renato Rovai (http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/blog/) "Dois votos no PT do Maranhão salvaram o PT". Expressa toda a coerência e responsabilidade de um militante da CNB preocupado com os destinos do Estado em que vive e não na solução fácil de seus interesses imediatos.

Parabéns ao companheiro Bilú:

"Francisco Domingos (Bilu) - 30/03/2010 13:23
Caro Rovai, poder contar 87 votos para derrotar a tese que defendia o apoio do PT ao PMDB (Roseana Sarney) aqui no estado não foi uma tarefa fácil. Fui delegado ao encontro estadual que definiu a tática eleitoral 2010. Delegado pela CNB. Mesmo contrariando o encaminhamento da direção da tendência, que em nenhum momento procurou criar um ambiente para ouvir a sua base, uma vez que a lista de delegados foi feita com o único objetivo de fazer passar o apoio ao PMDB, resolvi votar contra esse apoio. Entendo que o PT saiu vitorioso nesta disputa. Não duvido do favoritismo da candidatura da governadora Roseana Sarney, o peso da máquina é inegável, sobretudo em um estado como o Maranhão, mas grande parte daqueles que defendiam o apoio ao PMDB, no interior da CNB, o fazim pensando apenas na possibilidade de assumir cargos (já agora, no governo Roseana). Penso que um partido que se pretende sério não pode definir a sua tática eleitoral orientado por uma estratégia tão rasteira. Mais importante do que votar contra o apoio ao PMDB local, a minha decisão teve como fundamento a certeza de que é possível pensar um projeto de desenvolvimento para o nosso estado diferente do que tem se praticado por aqui. A governadora Roseana e o seu grupo político tem uma compreensão de desenvolvimento para o estado e procura colocá-la em prática, o que é legítimo (Aliás, muita gente por aqui é adepta desta compreensão, não fosse assim e talvez o mando deste grupo não durasse tanto), com a qual eu não concordo. Votar pela aliança com o PCdoB que apresenta o deputado Flávio Dino como pré-candidato a governador foi a minha forma de expressar discordância em relação ao encaminhamento que a CNB local deu para uma questão tão importante, o destino do Maranhão. Votei com convicção e continuo convicto de que o PT do Maranhão saiu vitorioso. O desafio agora é prepararmos um programa de governo que a exemplo do que vem sendo feito no Brasil promova o desenvolvimento do nosso querido Maranhão. Um desenvolvimento que tenha no protagonismo dos maranhenses a sua principal marca. É com um programa assim que conquistaremos corações e mentes para eleger a primeira presidenta do Brasil, Dilma, e faremos do Flávio Dino o governador de todos os maranhenses."

A candidatura de José Serra ou melhor... FHSerra

domingo, 4 de abril de 2010

As isabelas do Maranhão


Acompanho, com horror e nojo, a cobertura de mais uma tragédia maranhense: a morte em série de crianças, inclusive recém-nascidas, por falta de leitos de UTI no estado.

A Folha deste domingo registra a 16ª morte do ano ─ a vítima é Mayara Francelino, 8, que agonizava há nove dias, em leito comum, numa sala abafada e imunda, com meningite, à espera de uma vaga em unidade de terapia intensiva em sua cidade, Imperatriz.

Nem uma liminar obtida na Justiça, obrigando o governo maranhense a lhe oferecer UTI, mesmo que fosse em clínica particular, conseguiu materializar a tempo o tratamento que talvez lhe desse alguma chance de sobrevivência. A UTI só apareceu quando era tarde demais.

Mayara é a vítima de número 16 de mais essa incúria do governo instalado no Palácio dos Leões, em São Luís, que há mais de 40 anos abriga, com fausto, pompa e riqueza progressiva, uma família de hienas que se refestelam na carniça de seu povo. O estado tem o pior índice de IDH do país, a pior educação e o pior sistema de saúde, entre outros superlativos do mal.

No ano passado, 43 outras crianças morreram no Maranhão nas mesmas circunstâncias. O mesmo governo que sonega a essas crianças, ainda no útero das mães, condições sociais mínimas de nutrição e bem-estar, mata-as assim que vêm ao mundo, ou um pouco mais tarde, porque devem ter faltado pelo menos 13 milhões de dólares para a instalação dos necessários leitos de UTI infantil, a fim de atender às vítimas da contaminação pela miséria e pelo descaso, que resultam em baixo peso ao nascer, desnutrição, infecções oportunistas.

Ouso afirmar que os 13 milhões de dólares de Fernando Sarney que tomavam sol nas Bahamas têm a ver com as mortes dessas crianças. E que essa tragédia está intimamente relacionada à atuação dos Sarneys, que há 40 anos sugam e desgraçam o Maranhão.

Leio os jornais com horror, nojo e uma ponta de sentimento de culpa: enquanto perco tempo e verve analisando as crônicas mambembes do patriarca dessa família infame, relevo o fato de que ser o pior escritor do mundo é o mais leve de seus delitos.

Teria José Sarney a decência e a coragem de assinar um texto sobre Mayara ─ como se arvorou em fazer, numa crônica da Folha, a respeito de uma menina haitiana que ele identificou como MJ, amputada a sangue frio num hospital de campana improvisado em Porto Príncipe?

A inicial é a mesma. E há outra coincidência: MJ foi vítima de uma catástrofe natural; a pequena Mayara, também ─ a perpetuação do governo Sarney no Maranhão é uma catástrofe natural, e muito mais mortal, porque acumula danos há mais de 40 anos, instabilizando, pela miséria eterna, os níveis subterrâneos do terreno social do estado.

O governo Sarney não socorreu Mayara a tempo ─ nem com ordem judicial. Mas era uma ordem difícil mesmo de cumprir: não há leitos suficientes no estado, nem à força.

Com o cinismo que é de família, a governadora, só depois da morte de Mayara e de outras 58 crianças Sem-UTI, designou 5 milhões de reais para a criação de um punhado de leitos no hospital onde agonizou a menina - o Hospital Municipal Infantil de Imperatriz, conhecido, à propos, como Socorrinho.

Noves fora os 20 ou 30% dessa verba que vão morrer no caminho, sem passar pela futura UTI, até diretores do Socorrinho acham que a coisa vai continuar como está e novas Mayaras morrerão: para abrigar uma unidade da terapia intensiva, o hospital precisaria rever radicalmente seus padrões de higiene, que estão abaixo dos da tenda onde MJ foi amputada.

Por força de hábito, mas me sentindo a pior das criaturas, passei os olhos pela crônica de José Sarney na Folha de sexta-feira: ele continua obcecado pelo avanço da internet, que mal conhece, agora ameaçando a sobrevivência dos jornais impressos.

No final, depois daqueles raciocínios escabrosamente sem nexo de que só o pior escritor do mundo é capaz, ele sentencia, bem a seu estilo:
─ Finalmente, como o rádio e a TV não mataram o jornal, a internet não o matará. Só quem pode matá-lo é ele mesmo, querendo ser internet ou fazendo mau jornalismo.

Podemos garantir ao cronista que, mesmo que essa previsão não se concretize, e o jornal impresso vá a encontro de sua morte, as gerações futuras terão acesso, num hipotético arquivo nacional da vergonha e do escárnio, a um pedaço de papel embolorado noticiando a morte de Mayara e das demais crianças maranhenses ─ cuja lembrança, um dia, assombrará também as futuras gerações da família Sarney.

As Isabellas do Maranhão são atiradas para a morte por pais-da-pátria que nem tentam enxergá-las das janelas dos palácios. Morrem sem barulho. E acabam esquecidas na vala comum reservada aos que jamais conseguirão aparecer na primeira página do jornal.