segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O pobre Maranhão por trás da pobreza dos números.




a foto acima pode servir de símbolo e/ou metáfora da situação econômica vivida longamente durante as últimas décadas pelo Maranhão. A foto é de um, dentre vários casarões abandonados e decadentes em pleno centro da capital maranhense, especificamente na Av. Magalhães de Almeida nas próximidades da Praça João Lisboa.

A pobreza real, vivida e sentida diariamente por milhares de maranhenses recebeu uma pincelada de maquiagem grosseira recentemente ao se propagandear o 'crescimento acima da média, do PIB maranhense em relação à média nacional'.

Uma análise mais centrada dos números do IBGE mostra o Maranhão real por detrás da maquiação oportunista dos dados estatísticos.


Os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio – PNAD, divulgados recentemente pelo IBGE se constitui no instrumento quantitativo de pesquisa mais valioso sobre a realidade brasileira. Uma das novidades que a pesquisa apresentou foi o aumento das classes C e D tornando a pirâmide social mais robusta em seu centro, reflexo das políticas de distribuição de renda e conseqüente inclusão econômica e social das classes menos favorecidas.
Analisando os dados referentes à realidade maranhense, infelizmente, os sinais não são de melhora, mas de perpetuação do estigma de Estado da Federação com os piores indicadores sociais do país. A taxa de urbanização é a segunda pior do nordeste com o índice de 65,2%, só perdendo para o vizinho Piauí com 61,8%. A taxa de mortalidade infantil também é a segunda pior do nordeste, só perdendo agora para Alagoas com 53,7%.
Quando o assunto é educação o Maranhão apresenta o índice de 23% de pessoas com mais de 15 anos sem saber ler nem escrever. É o 4º pior índice do país, mais do que o dobro da média nacional que é de 11%. O chamado analfabetismo funcional exibe exorbitantes 40,5% de pessoas com mais de 15 anos que não sabem o que rabiscam em um papel em branco.
Um Estado sem educação é um Estado sem produção e renda, contudo o Maranhão apresenta a quarta maior População Economicamente Ativa (PEA) do Nordeste com o número absoluto de 3.041.592 (três milhões quarenta e um mil quinhentos e noventa e duas) pessoas aptas a produzir e consumir bens econômicos. Desse número a grande maioria está ocupada, 2.852.853 (dói milhões oitocentos e cinqüenta e duas mil e oitocentos e cinqüenta e três) pessoas estão trabalhando. Mas quando os índices revelam a natureza da qualificação começamos a esclarecer as razões de um baixo índice de produção de valor e renda.
42,9% das pessoas ocupadas estão trabalhando em atividades ligadas ao setor agrícola. 6,9% em atividades ligadas ao setor industrial. 5,7% na construção civil. 17,9% no comércio. 24% nos serviços. E 2,4% em outras atividades. Esses índices explicam em parte o número sobre o rendimento mensal médio do trabalhador maranhense, o pior do país, de R$ 396,80. A média nacional flutua entre R$800 e R$900, com a região do distrito federal exibindo a maior renda mensal média do trabalhador brasileiro com R$1515,70.
À priori os números da produção maranhense se explicam pela baixo índice de valo agregado criado pelas mercadorias produzidas no setor agrícola da economia. Em regiões onde o índice de ocupação em setores industriais é mais considerável a renda do trabalhador também aumenta proporcionalmente.
Esse baixo índice de produção de valor agregado se reflete nos bens de consumo e duráveis existentes nas casas das famílias maranhenses. Apenas 29,2% dos domicílios maranhenses possuem telefonia fica. É o segundo pior índice do país só perdendo para Alagoas com 26,9%. Em plena Era da Informação a taxa de acesso à internet é a pior do país com 2,8%, menos da metade da média nordestina de 7,3%, e muito aquém da média nacional de 20,8%. As residências com computador também apresenta o pior índice do país com 5,5%, metade da média nordestina de 11%.
Os domicílios com água encanada somam 67,2%, enquanto a média do nordeste é de 85% e a do sudeste 96,1%. Por sua vez o índice de residências atendidas com canalização externa (poços artesianos) é de 14,5%, a segunda maior do Brasil. Os domicílios atendidos com rede de esgoto somam 13,9%, segundo pior do nordeste, enquanto a média do nordeste é de 40,4% e a nacional de 66,2%.
Com a propagandeação recente dos ‘aumento maior que o da média nacional do PIB maranhense’ por parte do governo estadual e reproduzido entusiasticamente por jornais que deveriam mostrar o mínimo de independência frente ao poder político e econômico, uma análise mais equilibrada dos números divulgados pelo IBGE refletem aquilo que infelizmente vemos ao andar pelo interior do Estado: uma situação de total desolação econômica, conseqüência da degradação moral e política dos donos do poder ao longos das últimas décadas.