quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Reorganização do movimento estudantil”: Que papel essa ideia tem na prática cumprido?


 Como se sabe, com a vitória eleitoral de Lula em 2002, os movimentos 
sociais, as centrais sindicais e os partidos de esquerda reorientaram suas 
táticas em função da nova conjuntura. Desde então, o cenário na esquerda tem 
sido polarizado entre táticas antagônicas. 
Essa polarização atingiu de imediato o movimento estudantil. E foi 
justamente nesse contexto de forte polarização sectária que surgiu, pela 
iniciativa de alguns, a ideia de que havia ou deveria haver uma 
“reorganização” do movimento estudantil. 
Essa ideia surge em meio ao fortalecimento da crença, compartilhada por 
algumas organizações, de que a tarefa central do momento seria criar uma 
nova referência nacional de luta para o ME, visivel para o conjunto dos 
estudantes brasileiros, capaz de se impor como uma alternativa à UNE. 
Por isso é que as propostas de “reorganização” do ME sempre se materializam 
na base da criação de fóruns, frentes e todo tipo de articulações nacionais 
que supostamente pudessem ocupar o lugar que a UNE ocupa. As condições para 
a realização dessa empresa estariam dadas. 
Apesar de já se terem passado cerca de seis anos da criação da Conlute (que 
antecedeu a ANEL) e de, nesse meio tempo, terem sido diversas as tentativas 
frustradas de “reorganizar” o movimento estudantil, essa ideia ainda faz a 
cabeça de algumas pessoas. Por quê? 
Porque ainda há aqueles que partem do *pressuposto *de que os problemas do 
ME são, *em última instância*, um problema de direção: para essas pessoas, 
com o advento do governo Lula e a “captulação” da UNE diante do governo, a 
UNE se firmou definitivamente como um “entrave” ou um “freio” para as lutas. 
O “novo” movimento estudantil – que não captulou ao governo – estaria pronto 
para nascer. Para tanto, bastaria apenas derrubar o “entrave”, o que na 
prática significa criar uma nova referência nacional alternativa à UNE e 
contra a UNE. 
Quem lê a realidade de forma romantizada dirá que este pressuposto é 
verdadeiro. No entanto, se assim o fosse, a tática das organizações que 
levantam a bandeira da “reorganização” do ME estaria correta e o tempo teria 
lhe dado razão, coisa que não aconteceu. Por quê? Porque este pressuposto é 
falso. 
Se procurarmos ver a realidade sem idealizá-la, e buscar nela quais são os 
reais problemas do ME, o que veremos? Salvo exceções, e mesmo assim 
localizadas no tempo e no espaço, veremos um ME profundamente fragmentado, 
consumido por disputas internas fratricidas, profundamente 
institucionalizado, alheio aos problemas do povo, quase que totalmente 
voltado para demandas corporativas – quando não conservadoras – e, *o mais 
grave*, sem base real, ou seja, bastante distante das massas estudantis. 
Essa é a realidade mesmo naquelas experiências pontuais em que o movimento 
mostra-se mais combativo e eventualmente arranca vitórias: após explosões em 
que a massa se levanta e se coloca em luta, o que em geral tem se sucedido é 
um rápido descenso. 
Diante desse quadro, cabe questionar: se a ideia de que a tarefa central é 
“reorganizar” o ME fosse verdadeira, o que deveriamos ter visto onde essa 
ideia ganhou força, ou seja, onde as chapas partidárias da “reorganização” 
do ME venceram? 
Se essa ideia fosse verdadeira, nestes casos o movimento deveria ter 
enfrentado seus reais problemas: deveria ter ampliado a sua base e ter se 
massificado, ter ganho maior coesão, ter se organizado melhor, ter se 
tornado mais democrático, ter formado mais e melhores militantes, ter 
estabelecido laços reais com as organizações da classe trabalhadora... em 
suma, deveria ter enfrentado estes e inúmeros outros desafios *reais*. Ou ao 
menos ter se aproximado disso. No entanto, não foi isso o que aconteceu. 
O que de fato aconteceu? 
São inúmeros os relatos de militantes independentes que participaram dos 
epaços nacionais pautados pela ideia de “reorganização” do ME e que dão 
conta de provar que, enquanto no discurso se fala do “novo movimento 
estudantil”, *a prática *é igual ou pior às piores práticas que se conhece 
do “velho” ME. 
Mais do que os relatos de quem esteve lá, o critério para saber se essa 
ideia contribui ou não com o ME é sobretudo que diferença ela tem feito *na 
prática *em cada universidade e Executiva de Curso onde tem sido pautada. O 
que tem ocorrido é que, em geral, onde essa ideia surge, os problemas *reais 
* são esquecidos – como se não existissem! 
Quantos congressos e encontros de DCEs, CAs e Executivas de Curso *deixaram 
de discutir* seus problemas reais e como enfrentá-los porque a polêmica 
sobre rompimento ou não com a UNE e filiação ou não a essa ou àquela 
articulação nacional monopolizou o debate? 
E o que efetivamente fizeram os partidários da “reorganização” do ME quando 
estiveram à frente dos DCE's e CA's? Quantas questões realmente importantes 
foram *secundarizadas, quando não esquecidas totalmente,* porque essa 
questão monopolizou sua atuação? 
Portanto, a ideologia da “reorganização” do ME tem *na prática *cumprido o 
papel de *desviar* o ME daquela que verdadeiramente é a sua tarefa central: 
acumular forças para a revolução brasileira, enfrentando um conjunto de 
desafios, a começar pelo trabalho de base, massificando as lutas e formando 
politicamente uma nova geração de militantes para a luta social. 
*Na prática*, essa ideologia representa uma *fuga* dos verdadeiros desafios 
que se deve enfrentar, pois ela *mascara* os problemas *reais *do ME e, em 
seu lugar, apresenta uma realidade romantizada e idealizada, como se o 
“novo” ME estivesse pronto para nascer, esperando apenas a criação de uma 
alternativa à “direção nacional pelega e burocratizada”, quando a realidade 
é bem diferente disso. 
Ora, ao fazer a apologia da “reorganização” do ME como a tarefa central, o 
que se faz é contribuir para que o ME finja que os problemas reais não 
existem e fuja deles. Ao fazer isso, essa ideologia *na prática* *contribui 
com a perpetuação e o aprofundamento destes problemas.* Portanto, fazer a 
apologia dessa ideia é, *na prática*, prestar um grande desserviço ao ME. 
Ora, cabe indagar: se é assim, por que motivo se insiste com essa ideia? 
Os partidos e forças políticas em geral podem contribuir e muito com o ME. 
Mas, infelizmente, para alguns partidos, o ME é encarado *apenas* como 
celeiro de militantes, e a *única* coisa que importa é a autoconstrução. 
No fundo, essa é a divergência real: certas organizações colocam a sua 
autoconstrução acima de *tudo*, e não conseguem enxercar nestes desafios – 
trabalho de base, formação política, democracia interna etc – algo de útil, 
pois nada disso faz diferença quando o *único e exclusivo *objetivo é a 
autoconstrução. Aliás, para estes, o desvio está justamente em não 
subordinar os reais desafios do ME à autoconstrução! 
Daí sua incoerência, que chega a ser patética: elegem a direção majoritária 
da UNE como inimiga, fazem a propaganda da “reorganização” do ME para 
combatê-la, mas, no final das contas, naquilo que realmente importa – ou 
seja, *na prática –* comportam-se da mesma forma que a direção majoritária 
da UNE: *tudo* em função da autoconstrução. 
O que devemos fazer e como devemos nos portar diante dessa ideologia? 
Os motivos pelos quais os problemas do ME existem e persistem são muitos e 
complexos, e nem de longe se resumem a um problema de direção. Aliás, se o 
central fosse a direção, estes problemas já teriam sido resolvidos há muito 
tempo. A direção é parte do problema, mas não é o problema todo nem tampouco 
é o aspecto principal do problema. 
O ponto então é que não é a criação de articulações nacionais – seja uma 
entidade, seja outra coisa – que vai dar conta de enfrentar este conjunto de 
problemas. Para dar conta de seus inúmeros problemas, não há atalho: o ME 
precisa enfrentar inúmeros desafios, sendo o principal deles o trabalho de 
base. Não aquele “trabalho de base” voltado *única e exclusivamente* para a 
autoconstrução do partido. Mas o trabalho de base que fortalece o movimento, 
que ajuda a base a ser sujeito ativo do movimento. *É no desprezo por este 
trabalho de base que está a raíz de todos os problemas que o movimento 
estudantil enfrenta. * 
Dito isso, devemos ter claro que não é papel nosso combater as organizações 
que fazem a propaganda da “reorganização” do ME, nem as estruturas por eles 
criadas, seja a ANEL, sejam outras estruturas. Estes não são nossos 
inimigos. Elegê-los como tal seria um erro grosseiro. Para fazer diferença 
na luta de classes, toda a nossa energia deve ser direcionada a combater 
nossos verdadeiros inimigos: a burguesia e a direita, bem como os valores e 
as relações do capital e do patriarcado. 
Ao mesmo tempo, se não devemos combater os agentes desse discurso – pois 
fazê-lo seria um total desperdício de energia –, temos o dever combater as 
ideias que estão na base desse discurso. Isso porque a ideologia da 
“reorganização” do movimento estudantil tem implicações práticas: *quem 
compra esse discurso deixa de dedicar sua militância para o trabalho de base 
e vai dedicá-la a uma construção que na prática só contribui para manter a 
aprofundar o estado de letargia do movimento estudantil. * 
Para que faça alguma diferença na luta de classes, dentro e fora da 
universidade, o ME precisa ter força, e o ME só terá força se enfrentar todo 
um conjunto de desafios, forjando-se ele próprio como sujeito de 
transformações. Neste momento histórico de descenso das lutas de massas, 
hegemonia do capital na sociedade e fragmentação da esquerda, devemos mais 
do que nunca investir no trabalho de base, para ajudar a classe trabalhadora 
a se preparar para os embates que virão. 
Para ranto, o ME precisa ser visto como sujeito pelas forças políticas que 
atuam nele. Enquanto houver forças políticas com comportamento sanguesuga, 
preocupadas *única e exclusivamente* com sua autoconstrução *e em mais nada*, 
o ME continuará fraco, só acumulará derrotas e, o que é pior, não 
contribuirá com o reascenso das lutas de massas e não estará preparado para 
intervir de forma deciva quando este momento chegar. 
Paulo Henrique “PH” – Militante da Consulta Popular 

terça-feira, 19 de abril de 2011

Uma saída pela esquerda para São Luís

por
João de Deus Castro*
Sílvio Bembem**


Mal foi apresentado o nome do deputado Bira do Pindaré à prefeitura de São Luís e os diversos setores políticos, de oposição ou não, começaram a ensaiar suas posições. É uma incisiva demonstração do potencial desta liderança de esquerda, com trajetória de compromisso com as lutas sociais e recém-eleito deputado estadual pelo PT.
De fato, em pouco mais de 100 dias de mandato, o deputado Bira expõe com qualidade, na Assembleia, uma variedade de denúncias e questões fundamentais para o Maranhão.
Ainda pela esquerda, outras candidaturas são possíveis. O ex-deputado Flávio Dino (PCdoB), que, embora não se pronuncie a respeito ou, quando se pronuncia, diz não ser candidato, saiu forte de 2008 e 2010 e talvez sua candidatura se firme naturalmente. Haroldo Sabóia, após longo inverno isolado no PDT, agora no Psol, poderá surpreender como oposição de esquerda marcadamente anti-Sarneysta, principalmente se conseguir unir em torno o PCB e o PSTU (tarefa difícil neste último caso), com possibilidade de eleger pelo menos um vereador.
Em todo caso, as esquerdas devem sair com candidaturas separadas, seja por razões táticas, seja pela quase impossibilidade de unificação de seus principais partidos logo no primeiro turno.
Do outro lado, os dois principais grupos da direita do Maranhão instalados nos governos do Estado (família Sarney Murad) e da capital (Castelo/PSDB) também não devem sair unidos no primeiro turno, embora não saibamos de antemão a intensidade de fogo e contra-fogo que veremos nesse campo, embora daí não devamos esperar muito, pois se os colocamos aqui no mesmo campo é pela profunda identidade ideológica, de método e de resultados de gestão em termos de catástrofe social, o que não é pouco. Até porque seria difícil para esses grupos se chocarem sem passar aquela imagem do “sujo falando do mal lavado”. Os dois governos devem chegar a 2012, ao que tudo indica, acumulando mais riqueza no bolso dos governantes e péssimos índices sociais no outro lado da balança. E, como sabemos, a direita mais enriquecida é sinal mais que certo de abuso do poder econômico, um sério entrave à democracia no país e o principal por estas bandas. O provável é que as can didaturas expressivas deste campo tenham relação abrandada, embora a de Castelo seja o alvo preferencial de todos na corrida para substituí-lo.
O PT, tal qual em 2010, será o ponto nevrálgico da disputa de 2012. O que diz muito de sua importância política, mas muito também de sua infeliz atuação no momento atual, em que uma ala do partido participa do governo dos Sarney Murad. Participação pífia num governo que não tem uma única notícia boa pra contar. 2012 é uma boa oportunidade para esta ala começar a se desvencilhar desse caminho, ajudando a criar uma alternativa política de esquerda para São Luís e para o Maranhão, já que 2012 é passagem para 2014. Da mesma forma, é desafio para o grupo Resistência Petista e para o próprio dep. Bira buscarem prioritariamente a unidade do partido, sem vender a alma, preservando posições fundamentais que permitam seguir em frente com coerência no pós-2012, ou, se não houver outra possibilidade internamente, construir a vitória nas prévias do melhor nome de que o PT dispõe para a tarefa de enfrentar o ex-governador biônico ora instalado na Prefeit ura.
Papel não de pouca monta tem também o PDT, apesar de ter saído bastante enfraquecido de 2010. Mas sua situação não é menos complicada. Apesar de historicamente antagônico à oligarquia Sarney – se bem que até isto se encontra mitigado atualmente –, parece confortável encastelado na Prefeitura ao lado daquele que outrora foi seu principal antagonista, um oligarca que conduz o pior governo de que se tem notícia em São Luís, só comparável nesses termos, talvez, ao de Gardênia. Trata-se de contradição da mesma natureza daquela em que o PT se encalacrou no governo do Estado. Há, porém, no PDT da Ilha Rebelde alguma resistência. Há quem queira resgatá-lo para a posição anterior, mais à esquerda. Mas terá êxito? E, se tiver, sobreviveria politicamente sem o maquinário público municipal?
A oligarquia fará de tudo para tirar o foco do “melhor governo da vida” de Roseana Sarney e para isso deve abraçar uma candidatura que não seja tão emblemática de seu fracasso no governo do Estado. Ou mesmo várias, como fez em 2008. E é neste rumo que pressionará o PT do vice-governador.
Castelo precisa de aliança ampla para forjar tempo de propaganda eleitoral, e, além de poder econômico, tem o aparato administrativo que usará para, entre outras coisas, manter o PDT do seu lado. O que, aliás, já vem acontecendo, a exemplo do retorno ao ninho tucano do PPS de Othelino Neto e Miosótis, ex-candidata a vice-governadora na chapa de Flávio Dino. Segue neste mesmo sentido, se confirmado, a saída do deputado federal Pinto da Itamaraty (PSDB) para assumir secretaria municipal com orçamento polpudo, tomando o seu lugar na Câmara Federal o suplente Weverton Rocha, com o apoio do Ministro do Trabalho do governo Dilma, Carlos Lupi (PDT).
Pela esquerda há, como sempre, boas possibilidades em São Luís. Mas pra isso é preciso voltar o foco para os movimentos populares e suas lutas concretas. Para o trabalhador e a população pobre, que não devem estar satisfeitos com o mais sucateado e irracional sistema de transporte público do país, e um dos mais caros; com as ruas esburacadas; com a Educação e a Saúde colapsadas; com o patrimônio público cultural e arquitetônico abandonado; com a paralisação das obras do PAC Rio Anil; com falta de trabalho e renda; com a falta de participação popular; com a falta d’água; e até com a intensificação do calor na Ilha, graças à ausência de transparência e controle social (de fiscalização), bem como de um Plano Diretor para a cidade que impeça a paulatina destruição de áreas verdes em nome do rápido e vertiginoso enriquecimento imobiliário de poucos.
De tudo isso, muitas dúvidas quanto ao quadro político a se configurar para 2012. Uma quase certeza: haverá segundo turno. Uma certeza que pode ser vista a olhos nus: a Ilha de São Luís está sendo devastada. E uma perspectiva a ser construída: a saída é pela esquerda. Daí a necessidade premente de candidaturas como a de Bira do Pindaré, que só terá sentido se for para liderar um bloco de oposição ao PSDB de Castelo, com caráter polarizador e mobilizador, para vencer e governar a capital do Estado com foco no desenvolvimento sócio-econômico e na transformação da cidade.
*Ex-secretário de Juventude do PT/MA e servidor público do MPF/SP
**Administrador, especialista em Sociologia (Uema), mestrando em Ciências Sociais da PUC/SP. E membro do Diretório Estadual do PT/MA

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Diretórios de 15 municípios do PT do Maranhão reafirmam luta contra oligarquia Sarney

CARTA DE IMPERATRIZ



Militantes e dirigentes municipais e estaduais do PT reunidos em Imperatriz-MA, com a presença do deputado Bira do Pindaré e do fundador do partido Manoel da Conceição, no dia 09 de abril 2011, estando presentes 14 municípios ao final listados, decidiram:

1- Continuar a luta pela manutenção do PT do Maranhão fiel à sua tradição de luta por um estado verdadeiramente democrático, tendo como foco principal a defesa dos interesses da maioria de sua população e o consequente fim do modelo oligárquico de dominação política.

2- Armar o partido para o próximo embate eleitoral, de 2012, com a reativação do programa de formação política e de organização pela base, com ênfase na formação de fortes bancadas de vereadores e alianças consistentes para as prefeituras, visando acumular força para as eleições de 2014.

3- Reafirmar a independência do partido, em relação ao grupo que governa o estado há mais de 40 anos.

4- Construir um programa de desenvolvimento para o Maranhão, com forças políticas e sociais democrático-populares e de esquerda visando à construção de um bloco histórico como base para a disputa de poder no estado, fortalecendo nossas lideranças em pontos estratégicos do estado.

5- Dar integral apoio ao movimento dos professores por uma melhor educação para todo o povo do Maranhão, contra a violência e intimidação estatal que hoje fere a luta dos docentes.

6- Criar um foro regional de discussão política, com representantes das direções municipais, com vista à criação de um projeto estratégico de organização e disputa de poder para os municípios da região, com base operacional em Imperatriz e debates itinerantes em toda a região.





Imperatriz, 09 de abril de 2004.



Municípios presentes: Imperatriz, Amarante, Buriticupu, Buritirana, Campestre, Carolina, Cidelândia, Estreito, Governador Edison Lobão, João Lisboa, Lajeado Novo, Ribamar Fiquene, Senador La-Rocque e Porto Franco.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O que é ser comunista hoje? Entrevista com Valter Pomar







Isto é: Como vc analisa a trajetória histórica do PCdoB, considerando que o
partido surgiu de uma facção do antigo Partidão, participou da resistência à
ditadura, inclusive organizando a guerrilha do Araguaia, e acabou
sobrevivendo na democracia, em condições melhores do que experiências como o
PPS ou mesmo o PCB, que hoje é uma sigla sem expressão?

 Valter Pomar: O PCdoB ocupa, no cenário político brasileiro, um espaço semelhante
 aquele que o velho PCB teria ocupado nos anos 1950 e 1960, se não tivesse
 sido cassado e proibido de disputar eleições.
 Quanto acabou a ditadura Vargas, os comunistas do Brasil tiveram um ótimo
 resultado eleitoral. E quando começou a guerra fria, em todo o mundo
 capitalista, inclusive no Brasil, os comunistas foram perseguidos. Por isso,
 o PCB foi colocado na ilegalidade, foi proibido de lançar candidatos com sua
 própria legenda etc.
 Se não tivesse ocorrido esta perseguição, acredito que o PCB dos anos 1950
 e 1960 teria tido uma força equivalente a que teve o PC chileno ou o PC
 italiano.
 A questão é: por qual motivo o PCdoB, originalmente com 10% do tamanho
 total do velho PCB, conseguiu ocupar este espaço? Por qual motivo o Partido
 Comunista Brasileiro, que manteve 90% dos militantes do antigo PC,
 transformou-se num partido tão pequeno, seja na versão de esquerda (PCB),
 seja na versão de direita (PPS)?
 Há vários motivos. Cito alguns:
 1) primeiro, o "Partidão" (ou seja, o PCB após o racha de 1962) foi
 desmoralizado pelo golpe militar; então, muitos de seus dirigentes e
 militantes romperam com o Partido, engrossando várias das organizações de
 luta armada;
 2) segundo, o "Partidão" teve uma tática excessivamente recuada no final
 da ditadura militar, perdendo ou não estabelecendo vínculos com a
 combatividade que a classe trabalhadora demonstrou no final dos anos 1970,
 início dos anos 1980;
 3) terceiro, o "Partidão" não percebeu o papel do Partido dos
 Trabalhadores, enquanto o PCdoB já em 1989 passou a integrar a Frente Brasil
 Popular, que lançou Lula candidato a presidência da República;
 4) quarto, o "Partidão" foi altamente impactado pelos efeitos da crise e
 desmanche da URSS, enquanto o PCdoB conseguiu lidar melhor com esta crise.
 Resumidamente: enquanto a maioria do já combalido "Partidão" guinou para a
 social-democracia, o PCdoB resistiu a isto.
 Portanto, o desempenho atual do PCdoB não me surpreende. Basta ter
 democracia política, para que haja espaço para todas as facções existentes
 na classe trabalhadora.
A questão, na minha opinião, é outra: conseguirá o PCdoB evitar os mesmos
 desvios que afetaram o PCB dos anos 1950 e 1960?

 IE- Quais princípios históricos do Comunismo vc acha que foram abandonados
 e quais ainda são válidos hoje em dia? Quais estão presentes do PCdoB?

VP: O comunismo é a expressão teórica e ideológica de um processo objetivo,
a saber, a crescente produtividade da sociedade humana, produtividade que
torna totalmente anacrônica a exploração do trabalho, as classes sociais e a
propriedade privada dos grandes meios de produção. *
Por isso, continua totalmente válido falar que o capitalismo é um modo
de produção histórico, que não é nem será eterno; um modo de produção
 contraditório em si mesmo; contradição que pode resultar tanto na destruição
 da sociedade humana, quanto pode resultar na substituição do modo de
 produção capitalista pelo modo de produção comunista; sendo que a transição
 entre o capitalismo e o comunismo é um processo, chamado geralmente de
 socialismo, que pode durar até séculos; a revolução política, em que a
 classe trabalhadora toma o poder, é um momento essencial deste processo.*
 *Na minha opinião, ser comunista, ao menos do ponto de vista das idéias,
 significa compartilhar destes princípios.
 Na minha opinião, do ponto de vista das idéias existem comunistas no
 PCdoB, no PCB, no PSTU, no PSOL, no PT, noutros partidos e mesmo fora dos
 partidos.
 Outra coisa é definir a estratégia e a tática adequadas para transformar
 estes princípios em realidade. Parte das diferenças existentes na esquerda
 derivam da existência de diferentes estratégias e táticas.
IE: Você acha contraditório que um partido combativo e ideológico como o
 PCdoB seja visto hoje lutando por migalhas no Governo federal, reclamando de
 ter perdido espaço no Esporte e na Cultura, por exemplo? O fisiologismo
 venceu a ideologia?
VP: Acho esta pergunta preconceituosa.
 Fui secretário de cultura, esportes e turismo na prefeitura de Campinas
 (SP).
 Não acho que esportes e cultura sejam migalhas, nem acho que disputar
 recursos e influência no governo seja disputar migalhas.
 Considero que todos os partidos que participaram da coligação que elegeu
 Dilma têm pleno direito a influenciar, participar e dirigir o governo.
 O problema de fundo, na minha opinião, não é do PCdoB nem de nenhum outro
 partido, mas sim da metodologia geralmente utilizada para compor governos no
 Brasil. Esta metodologia estimula uma disputa entre os partidos vitoriosos,
 após o processo eleitoral. Isto deveria ser resolvido antes e de maneira
 mais clara, rápida e direta*.
 IE- Alguns analistas dizem que o PCdoB deve sua sobrevivência ao PT,
 vencendo eleições aqui e acolá sempre em coligação. Concorda?
VP: Não concordo.
 Acho que existe espaço, no Brasil, para um partido como o PCdoB, em
 convivência com o PT.
 De forma similar a como existia espaço, nos anos 1950 e 1960, para um
 partido como o PCB convivendo com o PTB.
 No que me diz respeito, eu gostaria que o PCdoB, o PSB e o PDT tivessem
 uma relação ainda mais próxima com o PT.
  Isto ajudaria a depurar todos estes partidos, reduzindo a influência dos
 setores pragmáticos e social-liberais que existem em todos eles, em maior ou
 menor medida.*

A entrevista foi concedida à Revista Isto é
Valter Pomar é integrante do Diretório Nacional do PT