sexta-feira, 1 de abril de 2011
O que é ser comunista hoje? Entrevista com Valter Pomar
Isto é: Como vc analisa a trajetória histórica do PCdoB, considerando que o
partido surgiu de uma facção do antigo Partidão, participou da resistência à
ditadura, inclusive organizando a guerrilha do Araguaia, e acabou
sobrevivendo na democracia, em condições melhores do que experiências como o
PPS ou mesmo o PCB, que hoje é uma sigla sem expressão?
Valter Pomar: O PCdoB ocupa, no cenário político brasileiro, um espaço semelhante
aquele que o velho PCB teria ocupado nos anos 1950 e 1960, se não tivesse
sido cassado e proibido de disputar eleições.
Quanto acabou a ditadura Vargas, os comunistas do Brasil tiveram um ótimo
resultado eleitoral. E quando começou a guerra fria, em todo o mundo
capitalista, inclusive no Brasil, os comunistas foram perseguidos. Por isso,
o PCB foi colocado na ilegalidade, foi proibido de lançar candidatos com sua
própria legenda etc.
Se não tivesse ocorrido esta perseguição, acredito que o PCB dos anos 1950
e 1960 teria tido uma força equivalente a que teve o PC chileno ou o PC
italiano.
A questão é: por qual motivo o PCdoB, originalmente com 10% do tamanho
total do velho PCB, conseguiu ocupar este espaço? Por qual motivo o Partido
Comunista Brasileiro, que manteve 90% dos militantes do antigo PC,
transformou-se num partido tão pequeno, seja na versão de esquerda (PCB),
seja na versão de direita (PPS)?
Há vários motivos. Cito alguns:
1) primeiro, o "Partidão" (ou seja, o PCB após o racha de 1962) foi
desmoralizado pelo golpe militar; então, muitos de seus dirigentes e
militantes romperam com o Partido, engrossando várias das organizações de
luta armada;
2) segundo, o "Partidão" teve uma tática excessivamente recuada no final
da ditadura militar, perdendo ou não estabelecendo vínculos com a
combatividade que a classe trabalhadora demonstrou no final dos anos 1970,
início dos anos 1980;
3) terceiro, o "Partidão" não percebeu o papel do Partido dos
Trabalhadores, enquanto o PCdoB já em 1989 passou a integrar a Frente Brasil
Popular, que lançou Lula candidato a presidência da República;
4) quarto, o "Partidão" foi altamente impactado pelos efeitos da crise e
desmanche da URSS, enquanto o PCdoB conseguiu lidar melhor com esta crise.
Resumidamente: enquanto a maioria do já combalido "Partidão" guinou para a
social-democracia, o PCdoB resistiu a isto.
Portanto, o desempenho atual do PCdoB não me surpreende. Basta ter
democracia política, para que haja espaço para todas as facções existentes
na classe trabalhadora.
A questão, na minha opinião, é outra: conseguirá o PCdoB evitar os mesmos
desvios que afetaram o PCB dos anos 1950 e 1960?
IE- Quais princípios históricos do Comunismo vc acha que foram abandonados
e quais ainda são válidos hoje em dia? Quais estão presentes do PCdoB?
VP: O comunismo é a expressão teórica e ideológica de um processo objetivo,
a saber, a crescente produtividade da sociedade humana, produtividade que
torna totalmente anacrônica a exploração do trabalho, as classes sociais e a
propriedade privada dos grandes meios de produção. *
Por isso, continua totalmente válido falar que o capitalismo é um modo
de produção histórico, que não é nem será eterno; um modo de produção
contraditório em si mesmo; contradição que pode resultar tanto na destruição
da sociedade humana, quanto pode resultar na substituição do modo de
produção capitalista pelo modo de produção comunista; sendo que a transição
entre o capitalismo e o comunismo é um processo, chamado geralmente de
socialismo, que pode durar até séculos; a revolução política, em que a
classe trabalhadora toma o poder, é um momento essencial deste processo.*
*Na minha opinião, ser comunista, ao menos do ponto de vista das idéias,
significa compartilhar destes princípios.
Na minha opinião, do ponto de vista das idéias existem comunistas no
PCdoB, no PCB, no PSTU, no PSOL, no PT, noutros partidos e mesmo fora dos
partidos.
Outra coisa é definir a estratégia e a tática adequadas para transformar
estes princípios em realidade. Parte das diferenças existentes na esquerda
derivam da existência de diferentes estratégias e táticas.
IE: Você acha contraditório que um partido combativo e ideológico como o
PCdoB seja visto hoje lutando por migalhas no Governo federal, reclamando de
ter perdido espaço no Esporte e na Cultura, por exemplo? O fisiologismo
venceu a ideologia?
VP: Acho esta pergunta preconceituosa.
Fui secretário de cultura, esportes e turismo na prefeitura de Campinas
(SP).
Não acho que esportes e cultura sejam migalhas, nem acho que disputar
recursos e influência no governo seja disputar migalhas.
Considero que todos os partidos que participaram da coligação que elegeu
Dilma têm pleno direito a influenciar, participar e dirigir o governo.
O problema de fundo, na minha opinião, não é do PCdoB nem de nenhum outro
partido, mas sim da metodologia geralmente utilizada para compor governos no
Brasil. Esta metodologia estimula uma disputa entre os partidos vitoriosos,
após o processo eleitoral. Isto deveria ser resolvido antes e de maneira
mais clara, rápida e direta*.
IE- Alguns analistas dizem que o PCdoB deve sua sobrevivência ao PT,
vencendo eleições aqui e acolá sempre em coligação. Concorda?
VP: Não concordo.
Acho que existe espaço, no Brasil, para um partido como o PCdoB, em
convivência com o PT.
De forma similar a como existia espaço, nos anos 1950 e 1960, para um
partido como o PCB convivendo com o PTB.
No que me diz respeito, eu gostaria que o PCdoB, o PSB e o PDT tivessem
uma relação ainda mais próxima com o PT.
Isto ajudaria a depurar todos estes partidos, reduzindo a influência dos
setores pragmáticos e social-liberais que existem em todos eles, em maior ou
menor medida.*
A entrevista foi concedida à Revista Isto é
Valter Pomar é integrante do Diretório Nacional do PT
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Um comentário:
O cara defende mais o PcdoB do que o propio partido.
http://www.diarioliberdade.org/
http://convencao2009.blogspot.com/
http://ousarlutar.blogspot.com
Abs!
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