quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Cuba sem Fidel

Emir Sader



A eleição de Raul Castro como chefe de governo e de José Ramon Machado Ventura como segundo obedece aos critérios que teve sempre Fidel Castro ao longo das mais de cinco décadas desde o início do processo insurrecional cubano. Representa confiança na velha guarda, naqueles que desde o primeiro momento acreditaram no processo revolucionário e se comprometeram com ele. São os casos do próprio Raul Castro e de Ramon Ventura. Os dois tem poucos menos que Fidel, pertencem à primeira geração dos revolucionários cubanos.

Dos outros nomes mencionados, apenas Ricardo Alarcon pertence à geração imediatamente posterior. Era presidente da União Nacional de Estudantes de Cuba, a Une, no momento da vitória da revolução. Os outros – Carlos Lage, Felipe Roque – com diferenças de idade, pertencem politicamente à geração formada diretamente por Fidel ao longo das últimas décadas, pertencendo à geração que já nasceu depois do triunfo da revolução.

Cuba tem uma nova direção política, sem Fidel. A direção que o sucede está composta por aqueles mesmos que compartilhavam com ele essa direção – tanto os que estiveram com ele desde o início do processo revolucionário, quanto aqueles que ele mesmo formou.

A renúncia de Fidel a seguir na direção política de Cuba fecha um ciclo na revolução, mas precisa ser localizada na evolução interna desse país, para que nos demos conta exata do seu significado e das suas possíveis conseqüências. Fidel é a revolução, para todos os cubanos. Foi sempre o dirigente máximo e, ao mesmo tempo, o maior crítico dos problemas e dos erros da revolução, incluindo os seus próprios.

Foi o dirigente máximo, porque foi quem melhor sintetizou as necessidades de direção do processo revolucionário. Foi – como Lênin – grande dirigente de massas, grande dirigente de partido e grande estadista. Só mesmo quem não conhece as condições concretas de luta pode questionar o fato de Fidel ter se mantido à cabeça do processo revolucionário e de Cuba ter mantido um Estado forte. Este se fez sempre necessário pela agressividade do maior império da história da humanidade – os EUA -, a 140 quilômetros de distância, sem nunca ter conseguido derrotar a revolução cubana, nem ter sucesso nos inúmeros atentados contra Fidel.

Nenhum outro dirigente apresentou condições de direção política que pudesse substituir a Fidel. A revolução não se poderia dar o luxo de substituí-lo. Ele dirigiu a revolução e continua a ser a referência ideológica central. Cuba contou com ele no período mais difícil da revolução - o chamado “período especial”, particularmente os anos entre 1989-1994.

Quando a sociedade cubana se tornava mais madura, mais complexa, se diversificavam as demandas, em especial das novas gerações, Cuba teve que enfrentar uma situação de retrocesso, restringindo a possibilidade de satisfazê-las.

As condições de superação do “período especial” estão dadas, seja pela adaptação da economia cubana às novas condições internacionais, seja pelos acordos com a Venezuela e a China e pela descoberta de petróleo em Cuba. Com ou sem Fidel, com ou sem um eventual presidente democrata nos EUA, Cuba ia ter que promover readequações – de caráter econômico e político, principalmente.

Raúl Castro representa a continuidade mais direta com Fidel, tem revelado no seu comportamento uma disposição de abertura ao debate e, ao mesmo tempo, a consciência de não ter o protagonismo de seu irmão, buscando abrir espaço para as novas gerações. Cuba viveria uma situação nova nestes anos. Agora não conta com Fidel como dirigente político e, principalmente, como líder de massas, fazendo com que seus discursos fossem as expressões determinantes no diálogo com o povo cubano.

A transição institucional está realizada, concluída, com a eleição da nova direção do Estado cubano. Fidel continua na direção do Partido, mas já manifestou que limitará sua atuação aos artigos, mesmo se Raul afirmou que vai consultar sempre o irmão, reafirmando o lugar de referência ideológica do regime cubano.

É com essa equipe que Cuba completará os 50 anos da revolução e enfrentará uma nova fase da sua história.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá companheiros e companheiras!
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