quarta-feira, 18 de junho de 2008
O impacto econômico do código aberto
Artigo de Cézar Taurion, Gerente de Novas Tecnologias Aplicadas da IBM Brasil
O modelo Open Source já afetou toda a indústria de software. Ele permite criar novos modelos de negócio e expande o próprio mercado de software, disponibilizando soluções a custos antes inatingíveis por muitas empresas.
Algumas empresas foram pioneiras em entender e adotar este modelo de forma complementar, enquanto outras tentaram, em vão, lutar contra. E o que vemos hoje? Open Source já não está mais confinado ao Linux, mas abrange uma gama imensa de produtos de software. E um dos maiores influenciadores de seu uso tem sido os governos. Um relatório publicado pelo CSIS (Center for Strategic and International Studies) mostra que em agosto de 2007 já existiam 268 iniciativas governamentais de apoio ao uso de Open Source, sejam em discussão ou já aprovadas.
Além disso, um fator de extrema importância e que muitas vezes não aparece com o devido destaque é o seu impacto econômico. O efeito econômico da indústria de software não pode ser medido simplesmente pelos empregos e impostos gerados diretamente. O software provoca um profundo impacto em praticamente todos os segmentos da economia. No nível mais básico, automatiza tarefas repetitivas que antes requeriam grande investimento de tempo e dinheiro.
Com a automatização destas tarefas as empresas conseguem se concentrar no trabalho mais substantivo, em vez do administrativo. A evolução tecnológica permite variar e sofisticar o trabalho, permitindo, por exemplo, que engenheiros utilizem recursos de “realidade virtual” para produzirem visões de automóveis, aeronaves e edifícios.
A tecnologia da informação e o software são ferramentas essenciais para melhorias de eficiência das empresas e economias, aumentando sua produtividade e competitividade. A inovação tecnológica provocada pelo software pode afetar indústrias por inteiro, como o emblemático exemplo da indústria fonográfica que foi totalmente modificada pelo advento do P2P e da Internet.
A indústria de software se encaixa nas classificações pertinentes da economia de serviços. É invisível, embora seus efeitos sejam sentidos – é indivisível, pois não funciona em partes, e é intangível, pois não pode ser tocado ou estocado. O que é estocado são as mídias. Além disso, existe a dificuldade em estabelecer um valor real a ele.
É uma indústria com baixas barreiras de entrada e pouca necessidade de capital, que impulsionam o ritmo de inovação. Produtos inovadores são lançados continuamente, bem como as versões dos produtos existentes são liberadas em curtos intervalos de tempo entre si.
O Open Source potencializa toda esta dinâmica. A esmagadora maioria das start-ups da Web 2.0 são construídas em cima de soluções Open Source. Sem o modelo de código aberto seria impossível conseguir um volume de investimento tal que permitissem a essas empresas se lançar ao mercado.
O impacto econômico do modelo Open Source fica mais gritante quando comparamos o que seria o desenvolvimento de uma distribuição como a Debian (com dados de 2006), com seus mais de 220 milhões de LOC, que se fosse desenvolvido por uma única empresa teria consumido 163.522 homens-ano a um custo estimado de 12 bilhões de euros (em 2005) e chegando, com as previsíveis evoluções e modernizações, a 100 bilhões de euros em 2010.
Alguns estudos mostram que 50% do código Open Source é completamente substituído em um período de cinco anos. Olhando apenas o esforço de codificação (excluindo debug, documentação, testes, etc), estaríamos falando em 43.944 homens-ano correspondentes a 26 mil desenvolvedores FTE (Full-Time Equivalent).
Inimaginável pensar que existiria alguma empresa de software, principalmente uma start-up que se aventuraria no mercado para competir com softwares já dominantes, demandando este imenso volume de investimento. Sem o Open Source o mundo do software seria outro, completamente dominado por monopólios.
Por outro lado, o modelo aberto abre perspectivas inovadoras de desenvolvimento colaborativo. O relatório mostra que a distribuição Debian analisada teve a contribuição de 986 empresas, que entraram com mais de 31 milhões de linhas de código, com esforço de 16.444 homens-ano, a um custo estimado de 1,2 bilhões de euros. Entre as empresas destacam-se a IBM, Sun MicroSystem, RedHat, Novell e outras. Fica claro que Open Source é um movimento que agrega esforços da comunidade e de empresas.
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