sexta-feira, 4 de junho de 2010

Líder indígena é presa pela Polícia Federal

 Na foto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva segura bebê de dois meses
de Glicéria Tupinambá. Glicéria participou da 13ª Reunião da Comissão
Nacional de Política Indigenista (CNPI), ocasião em que expôs as violências
sofridas por seu povo. Foto: Secretaria de Imprensa / Ricardo Stuckert / PR.
*POLÍCIA FEDERAL PRENDE MÃE E BEBÊ TUPINAMBÁ*
A Polícia Federal prendeu na tarde de hoje, feriado de Corpus Christi, a
índia Glicéria Tupinambá e seu filho de apenas (02) dois meses. Glicéria é
liderança de seu povo e membro da Comissão Nacional de Política Indigenista
– CNPI. Vinculada ao Ministério da Justiça, a CNPI tem entre seus
integrantes representantes de 12 ministérios, 20 lideranças indígenas e dois
representantes de entidades indigenistas. Na tarde de ontem, 2 de junho,
Glicéria participou da reunião da CNPI com o Presidente Lula, oportunidade
em que denunciou as perseguições de que as lideranças Tupinambá têm sido
vítimas por parte da Polícia Federal no Sul da Bahia.
No dia seguinte, quando tentava retornar para sua aldeia, Glicéria – tendo
ao colo o seu bebê de dois meses – foi detida ao descer do avião, ainda na
pista de pouso do aeroporto de Ilhéus (BA), e diante dos demais passageiros,
por três agentes da Polícia Federal, numa intenção clara de constrangê-la. O
episódio foi testemunhado por Luis Titiah, liderança Pataxó Hã-hã-hãe,
também membro da CNPI, que a acompanhava.
Após ser interrogada durante toda a tarde na sede Polícia Federal em Ilhéus,
sempre com o bebê ao colo, Glicéria recebeu voz de prisão da delega Denise
ao deixar as dependências do órgão. Segundo informações ainda não
confirmadas, a prisão foi decretada pelo juiz Antonio Hygino, da Comarca de
Buerarema (BA), sob a alegação de Glicéria ter participado no seqüestro de
um veículo da META (empresa que presta serviço de energia na região). Esse
juiz em entrevista concedida ao repórter Fábio Roberto para um jornal da
região, se referiu aos Tupinambá como “pessoas que se dizem índios”. Mãe e
filho serão transferidos para um presídio na cidade de Jequié, distante
cerca de 200km de sua aldeia.
Desde que a FUNAI iniciou o processo de demarcação da Terra indígena
Tupinambá as fazendas invasoras da terra indígena passaram a contratar
pistoleiros, fazendeiros dos municípios de Ilhéus e Buerarema iniciaram
campanhas difamatórias nas rádios e jornais locais, incitando a população
regional contra os índios, o que resultou numa série de conflitos envolvendo
pistoleiros, fazendeiros e indígenas. Como conseqüência da disputa pela
posse da terra os Tupinambá respondem a uma série de inquéritos e processos
criminais patrocinados pela Polícia Federal, numa estratégia clara de
criminalização de sua luta legítima em defesa de seu território tradicional.
Em decorrência dessa ofensiva de criminalização já estão presos os indígenas
Rosivaldo (conhecido como cacique Babau) e Givaldo, irmãos de Glicéria que
passa a ser terceira presa política Tupinambá.
A animosidade nutrida pela Polícia Federal em relação aos Tupinambá já se
tornou crônica.  No dia 23 de outubro de 2008, numa ação extremamente
agressiva, a PF atacou a comunidade indígena da Serra do Padeiro, deixando
14 Tupinambá feridos à bala de borracha, destruiu casas e veículos da
comunidade, a escola indígena e seus equipamentos, e ainda deteriorou a
merenda escolar. Dois Tupinambá foram presos na ocasião. Em junho de 2009,
após outra ação de agentes da PF juntamente com fazendeiros - numa ação de
reintegração de posse -, sinais de tortura em cinco Tupinambá ficaram
comprovados por exames de corpo de delito realizados no Instituto Médico
Legal do Distrito Federal. O inquérito, levado a cabo pelo mesmo delegado
que coordenou a ação dos agentes, concluiu entretanto pela inocorrência de
tortura. Nenhum dos agentes foi afastado durante ou após as investigações.
No dia 10 de março de 2010, numa ação irregular, a Polícia Federal invadiu a
residência do cacique Babau em horário noturno (duas horas da madrugada),
destruindo móveis e utilizando extrema força física para imobilizar o
Cacique, que acreditava estar diante de pistoleiros, pois os agentes estavam
camuflados, com os rostos pintados de preto, não se identificaram e não
apresentaram mandado de prisão, além de proferir ameaças e xingamentos.
O Conselho Indigenista Missionário, preocupado com a integridade física e
psicológica de Glicéria e seu filho, vem a público manifestar mais uma vez o
seu repúdio ao tratamento dispensado por órgãos policiais e judiciais ao
Povo Tupinambá. Reafirma seu compromisso em continuar apoiando a luta justa
do povo pela demarcação de seu território tradicional e conclama a sociedade
nacional e internacional a se manifestar em defesa da causa Tupinambá e pela
imediata libertação de seus líderes.
Brasília, 3 de junho de 2010.
*Conselho Indigenista Missionário – Cimi***

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