quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Livro Bomba... ou, argumentos, morais, jurídicos e poĺiticos pela saída de Sarney da vida pública brasileira


do blog Brasilia-Maranhão: http://brasiliamaranhao.wordpress.com

O livro Honoráveis bandidos -Um retrato do Brasil na Era Sarney é o tipo do livro que o sujeito interessado neste País lê numa sentada.

Não tem como largar. Só larga quando termina. E quando termina fica duas conclusões inevitáveis: primeiro, deveria ser leitura obrigatória para qualquer brasileira e brasileiro, com o mínimo de interesse no que se passa pela nação. Leitura interessante para integrantes do Judiciário.

Depois, se 50% do que contém o livro for verdade, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deveria ser sumariamente denunciado, preso e julgado por traição à pátria e escandaloso enriquecimento ilícito.

Se nada daquilo é verdade, então é o caso de o escritor e jornalista Palmério Dória ser denunciado e preso por enxovalhar, melhor, vamos usar um jargão jurídico: caluniar, injuriar e difamar uma figura octogenária que durante mais de 50 anos colocou a vida, sua juventude e energia pessoal para o desenvolvimento do Maranhão e depois do Brasil.

O certo é que um dos dois não pode ficar impune. Porque o livro é nitroglicerina pura, embora funcione mais como um trailer policial e menos como denúncia política. Ou seja, a começar pelo título, a coisa ali está mais para bandido, para gangue criminosa, do que para um tipo de cidadão respeitável que exerce um cargo público.

O livro é de potencial interesse aos jovens para que leiam, não percam a esperança no País e se interessem pela política no sentido de fazer exatamente o que não está nas páginas de Honoráveis bandidos. Mas o que tem o livro, afinal? Simples.

O livro narra como se fosse o diário da vida de um homem público, a trajetória do senador José Sarney, filho de um desembargador que numa seção eleitoral pegou a urna, colocou embaixo do braço e decretou: “Essa aqui é do Zé”. Os votos foram confiscados para engordar a candidatura do filho, a despeito de quem votou.

O livro vai evoluindo de escândalo em escândalo, de história em história, para a formação de um clã que em primeiro momento toma de assalto um estado, o Maranhão, que o transforma como fazenda habitada por zumbis e porcos e em segundo momento setores da própria nação, nas quais enfia providenciais bombas para drenar o dinheiro recolhido das brasileiras e dos brasileiros, através dos impostos. A influência se estende a quase todos os setores, mas, mais providencialmente, ao setor energético e ao Judiciário.

E este é o começo de uma inglória carreira que tem episódios escabrosos como o Banco de Santos, relações incestuosas com a Rede Globo, a Academia Brasileira de Letras, a Lunus e muitas outras.

O livro revela o tiro que a Polícia Federal deu supostamente a pedido de José Serra na candidatura de Roseana Sarney, flagrando uma montanha de dinheiro no prédio da empresa do marido dela, a Lunus.

De uma paixão não correspondida de Sarney por uma funcionária da Globo ao vício de Roseana por jogos de cartas, as vicissitudes do clã vão desfilando pelo livro como um rosário de impunidade, porque tudo tem como sustentáculo o dinheiro público.

Há declarações pesadas e que deveriam ser investigadas, caso a Justiça fosse levada realmente a sério – contra os poderosos – no Brasil. O ex-deputado tucano Aderson Lago diz: “O pai (de Sarney) não era um fazendeiro abastado, empresário, não era nada. Era pobre, nunca tiveram nada. Nunca acertaram nem no jogo do bicho. Ele (Sarney) mesmo contou, quando presidente da República, na inauguração do Fórum Sarney Costa, que o pai teve que vender sua máquina de escrever para mantê-lo por uns tempos. E hoje (Sarney) é dono de emissoras de TV, de rádios, de jornal, de imóveis, de um patrimônio milionário absolutamente injustificável”. E aí? Quem se habilita?

Há histórias escabrosas – a maioria – e algumas chegam a ser cômicas não fossem humilhantes para os contribuintes, brasileiras e brasileiros. Um sujeito chamado Tauser Quinderê, homem de confiança de Sarney, levava malas de dinheiro para depositar na Suíça.

Numa destas viagens o sujeito tem enfarte e morre. A mala cheia de dinheiro desaparece, pois os suíços também não vacilam. Sarney não se preocupou com a morte do amigo e sim com o sumiço da mala a ponto de ter ameaça de enfarte e ser levado às pressas para o hospital. É engraçado. Mas é triste.

Claro que muitas coisas do livro são conhecidas. O problema é esse. Conhecidas, mas nunca apuradas. Algumas são velhas, como os trambiques no Maranhão. Outras frescas, como a investigação pela Polícia Federal de Fernando Sarney (filho do homem) e a conclusão de que o sujeito montou com a ajuda do pai uma organização criminosa encarregada de drenar recursos públicos.

Descoberta que levou a um dos maiores escândalos do Congresso brasileiro, e terminou em nada porque afinal o acusado controla o Senado como um vampiro controla as suas vítimas. Se querem mais, peguem o livro.

Serviço

Honoráveis bandidos – Um retrato do Brasil na Era Sarney. Do jornalista Palmério Dória. Geração Editorial. 208 páginas. R$ 29,90.

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