segunda-feira, 22 de março de 2010

12 teses e ½ sobre a conjuntura do Maranhão



Wagner Cabral da Costa
Historiador / UFMA


1. Nunca é demais lembrar o ponto central das disputas políticas no Maranhão, do ponto de vista democrático de esquerda, que é o enfrentamento da mais velha oligarquia do país. Esta foi a tônica predominante nas últimas décadas, com seus acertos e erros, sucessos e derrotas.
2. Filha direta da ditadura militar, a oligarquia se manteve no poder durante quatro décadas em virtude, em primeiro lugar, das relações com o poder central, com o que teve e tem acesso a cargos federais e verbas públicas, manejados visando preservar e ampliar seu poder. Dos militares, apoiou a Nova República (do PMDB de Tancredo Neves), passando depois pelo PSDB de Fernando Henrique e agora pelo PT de Luís Inácio.
3. Sua ideologia é não ter ideologia, abraçando qualquer idéia, desde que oriunda do centro de poder, num governismo e adesismo congênitos que a transformaram desde sempre numa oligarquia “de uso exclusivo da Presidência da República”. Numa eventual vitória tucana em 2010, logo a veremos reconvertida ao credo do PSDB, dando-lhe sustentação política e governabilidade.
4. Em outro ângulo, a oligarquia também é produto e patrocinadora minoritária do processo de modernização conservadora da economia. Processo levado adiante pelo grande capital nacional e estrangeiro, com o apoio decisivo do Estado, e que transformou o Maranhão num corredor de exportação de produtos e insumos básicos, ao custo da superexploração dos trabalhadores, da destruição da agricultura familiar, da explosão dos conflitos no campo, do assassinato de lideranças populares, da destruição do meio ambiente. Nesse sentido, a oligarquia é expressão e aliada orgânica do grande capital.
5. A modernização conservadora também modificou parcialmente as bases de sustentação da oligarquia. Pois, ao lado do patrimonialismo (uso da máquina federal e estadual, nepotismo, clientelismo e corrupção), a oligarquia se constituiu em grupo econômico, com ramificações mafiosas em setores-chave da economia e do Estado nacional (vide as Minas e Energia), laços com empreiteiras e construtoras (corrompendo licitações e contratos), além da imensa fortuna familiar (visível e invisível).
6. O quase monopólio dos meios de comunicação de massa é outro componente da estrutura oligárquica, um controle direto (Sistema Mirante) ou indireto (aliados políticos e financiamento da mídia por verbas públicas). Estruturou-se dessa forma um Ministério da Mentira (MiniMent), espalhado na TV, no rádio, em jornais e na internet, cuja função é fabricar falsas verdades e distribuir falsas ilusões de progresso e desenvolvimento. Com a aproximação do período eleitoral, passou a vigorar o “vale-tudo”, com a divulgação sistemática de falsas notícias e pesquisas, de boatos e mexericos fabricados para comprometer seus adversários e críticos.
7. A violência e o medo formam ainda um dos sustentáculos da estrutura oligárquica. A violência física e simbólica voltada contra os trabalhadores e suas organizações, contra políticos e partidos da oposição. Alimenta-se a crença de que o chefe oligárquico é um Deus onipotente e onipresente, que tudo pode e tudo quer. No entanto, a imagem divina de um mestre de marionetes apenas esconde a fragilidade de toda essa estrutura de poder, sustentada não na consciência popular, mas na coerção, no clientelismo, na compra de votos, no abuso de poder político, econômico e midiático. A oligarquia é apenas a caricatura de um falso Deus.
8. Por outro lado, a trajetória das oposições tem sido múltipla, fragmentada e sem continuidade, por diversas razões que convém brevemente examinar. Em primeiro lugar, pelo espaço ocupado por dissidentes da oligarquia, cuja ruptura se deu por questões menores, pois em sua maioria são meros parricidas, que pretendem eliminar o deus-oligarca apenas para ocupar o seu lugar, repetindo a estória do José que substituiu o Vitorino. Ou ainda retornando ao ninho da oligarquia ao primeiro sinal de adversidade e à primeira promessa de benesses, pois se trata de uma classe política majoritariamente patrimonial e governista.
9. O exemplo do governo deposto pelo golpe judiciário do TSE deve ser retomado. Eleito num Condomínio de forças políticas contraditórias, tanto conservadoras quanto progressistas, o governo pedetista optou por privilegiar o atraso, afastando-se das esperanças e aspirações populares. O sentido parricida logo se revelou no projeto de substituir a velha oligarquia e não avançar na perspectiva da democratização da política e da participação popular, promovendo um governo de efetivas reformas. Nada disso aconteceu e pagamos todos hoje o alto preço da opção pelo atraso, com o retorno ilegítimo da filha oligarca ao poder.
10. Ainda quanto à trajetória das oposições, verificou-se historicamente um amplo processo de cooptação no seio dos setores e partidos do campo democrático e popular. Cooptação de lideranças, militantes e partidos, que foram absorvidos e depois aniquilados pela máquina política da oligarquia. Em lugar de comemorar, devemos lamentar tais trajetórias, já que, se tivessem permanecido na luta, outro seria o quadro político e outras seriam as possibilidades de transformação do Maranhão. Assim, muito nos preocupa, nesse momento, que companheiros do PT estejam cogitando aliar-se com a oligarquia, em nome de um projeto nacional que, por todos os pontos de vista, não ficará comprometido se a decisão tomada for pela construção de uma candidatura do bloco de esquerda e progressista. Não há um único argumento a favor da aliança com a oligarquia que não tenha sido refutado no debate público estabelecido nas últimas semanas. Mas se o debate político já foi ganho, o jogo de bastidores e o processo de cooptação continuam...
11. A hora, portanto, é de preocupação. Mas principalmente de conclamar todos esses companheiros e companheiras a rever sua posição pró-aliança com a oligarquia, a rever sua opção pelo atraso, pois a construção de um novo Brasil não pode se dar ao custo da preservação do velho Maranhão!. Em nome de suas próprias histórias de vida e das histórias de todos os combatentes sociais desse estado, que lutaram e morreram em nome das idéias de democracia e transformação social, não se deixem seduzir pelo canto de sereia da oligarquia, que agora promete cargos e votos, apenas para cooptá-los, utilizá-los e depois jogar todos vocês fora. Não troquem sua história nas lutas e nos movimentos sociais para virar a chupa da laranja. Não se tornem o bagaço da cana, depois de bem triturado na moenda da Casa Grande do José. O juízo da história é implacável, como nos lembra o poema de Bertold Brecht:
Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis!
12. Nesse espírito de (re)construção da unidade política do campo democrático, popular e progressista é preciso avançar também na construção de uma cultura política democrática, que supere a luta fratricida que tanto custou e ainda custa para o avanço das forças de esquerda em nosso estado, e que só serve aos interesses dominantes. A construção do protagonismo da esquerda passa também pela recomposição dos laços internos entre tendências e facções, num jogo de colaboração onde todos ganham politicamente, ao passo em que constroem coletivamente alternativas populares e democráticas para o Maranhão.
12 e ½. Para finalizar, aos que eventualmente estranharam o título de minha intervenção no debate, gostaria de dizer que a 13ª tese será escrita pelos delegados do PT em seu Encontro Estadual. Logo veremos com que tintas os companheiros pretendem contar a sua história. Se pretendem ou não continuar imprescindíveis às lutas sociais, construindo o protagonismo das forças de esquerda e aproveitando as possibilidades abertas na atual conjuntura para a derrota da oligarquia no campo eleitoral e a formulação de um projeto alternativo para o Maranhão.
Logo veremos, portanto, com que cores pretendem pintar o futuro dos trabalhadores e trabalhadores do Maranhão. Sinceramente, contamos que seja um futuro onde se desmascare o falso deus e onde possamos cantar, com Mercedes Sosa: “Gracias a la vida, que me ha dado tanto”. Pois, mais uma vez, a ESPERANÇA terá vencido o MEDO!



Wagner Cabral da Costa
Historiador / UFMA

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