terça-feira, 16 de março de 2010
Por que PCdoB e não PMDB
por Cristiano Capovilla
“A tarefa é grande
mal bastamos.
É preciso primeiro refazer a vida,
uma vez refeita
poderemos cantá-la”
Maiakóvski
A questão nacional.
O PCdoB compreende que é necessário avançar nas conquistas do governo Lula. Para tanto, o único caminho possível é a eleição da Dilma Rousseff à presidência da república. Caso contrário, como sempre tem ocorrido desde a redemocratização, às forças neoliberais retornariam ao centro do poder da república, e isso, como sabemos, são de tristes lembranças para nosso povo e nossa nação.
Portanto, cabe aos comunistas em 2010 eleger Dilma e aprofundar as transformações que o Brasil necessita, ou seja, superar os verdadeiros entraves para um desenvolvimento sustentável que favoreça a maioria trabalhadora. Acreditamos que somente num governo democrático, com socialização do trabalho e da renda, as forças progressistas e de esquerda crescerão, pois a discussão política se eleva ao programático, às saídas objetivas para os dilemas da nação. O PCdoB tem um programa para apresentar, por isso muito interessa esse ambiente de discussão. Para os comunistas isso faz parte do movimento de crescimento e acumulação de forças. Participar dessa batalha e vencer as eleições é a principal tarefa do PCdoB em 2010.
Com esse objetivo definido, entendemos que para ganhar às eleições e construir a governabilidade em um continente chamado Brasil, o PMDB é chave, porque atualmente ocupa o papel de centro do espectro político nacional, sendo sempre disputado pela direita neoliberal e pela esquerda. Por cumprir com esse papel o PMDB sempre se divide em uma maioria governista e uma minoria da oposição. Ter a maioria do centro político para ganhar e governar é uma ação tática coerente que têm relações com os objetivos estratégicos. A tese de eleições plebiscitárias favorece a distinção dos campos que realmente disputam o poder central no país, obrigando o centro a se posicionar.
Mas, então, se o PMDB é de importância fundamental para vencer e governar, qual a verdadeira importância da esquerda na coalizão que elegerá a Dilma? Ora, a esquerda deve ser a força política que dá sentido ao programa e ao futuro governo! A questão da conquista do centro político, principalmente do PMDB, é um movimento coerente da tática política frentista, é condizente como movimento para se atingir determinado objetivo, mas não se confunde com o objetivo em si. É a esquerda que deve dar sentido a qualquer governo de esquerda. Essa é a questão estratégica!
A aliança tática com o centro para ganhar e governar não se confunde com as transformações profundas que o Brasil necessita. Não vai se esgotar nessa aliança tática o rompimento com os grilhões do neoliberalismo, embora ela seja feita com a intenção de acumular forças e crescer para propiciar às condições dessa virada. Não podemos confundir a tática de ganhar e governar com a estratégia de crescer e criar condições para transformar o Brasil. A tática é particular ao momento. A estratégia deve estar dentro da tática fornecendo sentido às ações imediatas, como a imanência do universal no particular. Quem confunde esses dois movimentos políticos distintos (mas não separados) é reformista ou oportunista!
O caso da coalizão da Concertación no Chile é emblemática: após vinte anos de governo, a coalizão de centro esquerda estagnou nas ações políticas de transformação do país. Isso levou a descrença do povo com o processo político mudancista. O resultado foi à eleição em 2010 do filhote da ditadura e empresário Piñera. De certa maneira, o que a Concertación fez foi à adoção de políticas sociais para tentar diminuir o abismo existente entre a população mais pobre, a classe média e os mais ricos do país. Essa política foi aprofundada, principalmente, no governo da Presidente Michelle Bachelet. Entretanto, não foram adotadas medidas que pudessem solucionar os problemas em sua essência. Foram tomadas medidas paliativas para resolver questões estruturais. O resultado foi a volta da direita.
Cabe aos companheiros da esquerda saberem distinguir a aparência da essência do fenômeno político por qual estamos passando, sob pena de perdermos com o tempo a conexão entre os elos mudancistas, populares e de esquerda que compõe o atual cenário da sucessão nacional.
Como diz o companheiro André Singer do PT: “Desde há muito o PMDB deixou de ter apego a um programa. Talvez uma análise minuciosa mostre que o ciclo programático do partido se esgotou quando promulgada a Constituição de 1988. Desde então, a sigla se transformou em um condomínio de lideranças regionais, com as mais diversas inclinações". Ainda sobre o PMDB diz: "A ausência de um ideário comum possibilita maior flexibilidade na ocupação de espaços de poder. Tanto apóia a opção neoliberal do segundo mandato de Fernando Henrique quanto o caminho desenvolvimentista do segundo mandato de Lula. Nunca se ouviu falar de um debate interno ao partido sobre os diferentes projetos que tais governos representam".
Essa é a diferença entre a opção tática e a estratégica.
A questão local.
É um grande equívoco defender a tese de que a melhor aliança para Dilma é com Sarney. Como foi dito acima a questão central da eleição da Dilma é o crescimento e o acúmulo de força dos setores progressistas, democráticos e de esquerda, para realização das tarefas estratégicas que o Brasil precisa. Essa é a essência da coalizão. É esse o seu sentido maior. Portanto, para sermos coerentes com a questão nacional, é imperioso que entendamos que não cabe ceder espaços políticos para o PMDB. O PMDB não precisa de espaços políticos no Maranhão. Pelo contrário. Os têm até demais.
Aqui, pela peculiaridade maranhense, é mais necessário criar e fortificar o campo de esquerda, estratégico, do que “doar” espaços políticos para Sarney. Porque a aliança do PT com Sarney no Maranhão é somente transferência do espaço social petista à influência patrimonialista da velha oligarquia.
A transformação da tática de “ganhar o centro”, o PMDB, em condição estratégica para o Maranhão, não se sustenta do ponto de vista da lógica da política. A política coerente é aquela que aproxima a tática da estratégia. Pois bem, tanto do ponto de vista tático (ajudar a eleger Dilma) quanto do ponto de vista estratégico (dar um sentido de esquerda ao seu governo) a aliança do PT é com o PCdoB e com O PSB! A opção pelo PMDB perde sentido tático quando vem para o plano estadual, uma vez que a questão estratégica (a aliança da esquerda) aqui está sendo prejudicada ao ceder espaços políticos para o PMDB.
A absolutização da aliança com os sarneístas contraria a lógica política da esquerda. Fere os objetivos essenciais da coligação que elegeu Lula e irá eleger Dilma. Fragmenta ainda mais o PT. Dificulta a aliança estratégica das esquerdas no Maranhão. Não contribui para a superação do modo oligárquico e patrimonialista que as carcomidas oligarquias sempre utilizaram para tornar esse estado refém da miséria.
Conclusões críticas.
O PCdoB já se aliou com Roseana com o meu consentimento enquanto dirigente. Era outro momento em outra época. Não havia unidade nas esquerdas do Maranhão. Ao contrário dos que pensam que isso é uma fragilidade do PCdoB é, antes, uma autoridade para nós dizermos que independente das promessas de Roseana ou Sarney ao PT, a constituição interna do sistema oligárquico deglute qualquer pretensão mudancista, democrática ou de esquerda que se pretenda implementar. Nem que Roseana quisesse mudaria o sistema oligárquico historicamente constituído do qual nutre seu poder. O PCdoB pode falar de alianças com Roseana. Já tivemos essa experiência. Não recomendamos ao PT.
Agora, diferente de antes, temos a possibilidade concreta de consolidarmos um pólo de esquerda que rompa com as oligarquias patrimonialistas que infestam o aparelho público e que crie condições de novos atores políticos exercerem com dignidade republicana o poder no estado e nas cidades maranhenses. O PT não pode dar essa guinada à direita contrariando a essência do projeto nacional que elegeu Lula e elegerá Dilma presidente do Brasil.
Conclamo aos setores mais esclarecidos do PT a manter-se coerente com o projeto nacional, construindo sua réplica progressista aqui no nosso estado. Junto com o PT, o PCdoB, o PSB e outros, temos todas as possibilidades de elegermos uma grande bancada de proporcionais, senadores, o governador e a ampla maioria dos votos para Dilma Rousseff. Esse é o único projeto coerente que deve ser defendido pelo bem do povo maranhense.
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