José Antonio Pinheiro Junior (Catatau)*
A história se repete como farsa diz o ditado. A questão é: onde ela se repetirá? E em quais condições? Muitos defensores do ideário democrático, de uma sociedade de livre expressão do pensamento crítico por volta dos anos 80 no Brasil fundaram o PT como perspectiva de uma partido que fosse radicalmente diferente dos até então vigente no país, exatamente pelo seu escopo de permitir que na mudança da conjuntura política houvesse um espaço para a disputa de projetos políticos através do debate de idéias. Seu estatuto, suas eleições, suas convenções, fóruns, encontros e seminários, seriam assim consolidados como o lugar onde as várias forças políticas que sonhavam com a utopia de uma sociedade livre pudessem debater e indicar os rumos do Partido. Nessa ocasião, fruto do acumulo de lutas contra o Regime Militar, conservador e autoritário, o PT reuniu uma pluralidade de pensamentos jamais visto antes na nação sob um mesmo partido, de Trotskystas, anarquistas, socialistas, comunistas, cristãos socialistas, líderes camponeses, lideres estudantis, intelectuais de esquerda, marxistas, todos estavam ali porque acreditavam que o pluralismo baseado na coletividade de um projeto alternativo de sociedade contribuiria para o PT avançar no seio de uma sociedade hegemonizada pelo capital e pela ideologia positivista, individualista, autoritária e conservadora. Em síntese, o PT nasceu sob a égide da liberdade de expressão contra o autoritarismo em busca de uma sociedade alternativa. Alguns anos se passaram de lá para cá, e a luta pelo poder central institucional da República, principalmente, nas duas últimas eleições levou aos “iluminados” dirigentes nacionais do PT que compunham o colegiado pensante da matriz pragmática política hegemonizados pela toda poderosa facção paulista autoritária, a jogar fora, primeiro a bandeira da ética, e agora a da democracia interna do Partido dos Trabalhadores. Bateram o martelo: pelo poder vale tudo. Moral da história: Lula chega ao poder, descobriram o esquema, os amigos íntimos foram jogados aos leões e Lula renova seu círculo de amizade que lhe tira a corda do pescoço, antes da forca. Lula respira, renasce, e pior, retrocede na política, entra em cena, em um enredo já desenhado, o último coronel do Brasil, Sarney, o novo amigo, aliado, antes odiado, agora amado, fiel conselheiro, estava salvo o projeto, o programa, o poder, a ética no lixo. Bom, nem precisa lembrar que foram escândalos e escândalos, mas em nome da pragmática política, do projeto, tudo agora é digestível. Bom, uma vez superado as crises, e a ética varrida para debaixo do tapete do PT restava a democracia interna, último dogma vivo e intocável, inviolável, inegociável até agora a pouco. Antes de mais nada, é preciso recordar que os militantes ideológicos do PT sempre se oxigenaram e se mantinham no PT exatamente por conta da democracia interna. A regra é simples, milenar: uma vez terminado o debate, vamos ao voto, leva o vencedor. A luta pelo voto, pela expressão livre em assembléias remonta a Grécia Antiga, mesmo em sua imperfeição, a tese grega, passando por diversas modificações na história inspira até hoje as reuniões colegiadas, reuniões de sindicatos, trabalhadores, estudantes, camponeses, professores, etc. Em síntese o método se resume no seguinte: colocado em debate as proposições, uma vez esgotado o debate, vamos a votação, vence a maioria, o voto defini que rumo seguir. Os MILITARES claro, nunca aprovariam tal método. E o PT? Pois é, o atual PT nacional do Brasil cego em se manter no poder acaba de aderir ao facismo, ao autoritarismo, quando deixa de respeitar as regras internas e estatutárias do partido ao fazer uma intervenção e não respeitar o resultado do processo político de escolha do Flávio Dino como candidato do PT do Maranhão a governador do Estado. Ao calar o PT do Maranhão, a executiva nacional mostrou sua face mais autoritária e fez do PT um partido como outro qualquer, um partido de coronéis. E claro, esse golpe, lembra um golpe que acabamos de assistir na República. O golpe que a oligarquia Sarney deu no então governador eleito democraticamente pelo povo maranhense, Jackson Lago, é muito semelhante ao agora do PT nacional contra o PT do Maranhão, estão querendo ganhar tudo no tapetão, resta saber quem está ensinado a quem, quem é aluno e professor, se Lula a Sarney ou seu Sarney a Lula, como o bigodudo já tem pós-graduação em golpe político e foi um amigo aliado do autoritarismo no Brasil, então conclui-se que Lula e sua parte do PT são os novos aprendizes do facismo sarneisista. Infelizmente, o paradigma da democracia que guiava o PT caiu por terra abaixo. Eu conclamo todos os companheiros de luta a não desistirem, vamos à luta até o fim, enquanto eles querem Sarney, fiquemos com Mané da Conceição, Terezinha, Dutra, Maria Aragão, Zumbi, Negro Cosme, Gerô. No entanto, fato é fato, o PT nacional em nome do poder ao interferir e não respeitar as decisões dos petistas maranhenses aderiu fielmente ao autoritarismo da direita brasileira, o que é extremamente perigoso para a própria democracia no Brasil. A história se repetiu como farsa, dessa vez, infelizmente, no âmago do PT. Do que teremos ainda de abrir mão em nome do Poder? Muda PT. Ainda é Tempo. Fora Sarney.
___________________________
*Professor de Filosofia e Músico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário