por Bruno Rogens*
A oligarquia Sarney é perversa. Disso o povo já sabe há muito. Tanto que desde a redemocratização a oligarquia nunca se entendeu bem com as urnas, sempre esteve à perigo de não sustentar sua dominação através do voto. Tanto que perdeu as eleições de 2006... e tomou no tapetão via mãozinha dos tribunais federais. Em 2010 lançou mão de todo tipo de expediente para esvaziar a candidatura de Flávio Dino e impedir o segundo turno por míseros 2600 votos. Nem o princípio dos 50% + 1 foi respeitado nesse pleito, pois de tratou de 50% + 0,08. Muito menos que uma unidade inteira para se concretizar o princípio democrático da maioria absoluta. Mas a oligarquia não é perversa apenas com o povo, ela também é implacável com aqueles que ousam dividir a mesa do poder e são estranhos às origens familiares e políticas do clã. portanto vejamos como Washington Luís conseguiu sentar-se à cadeira de vice-governador do Maranhão.
Pra garantir a eleição da filha incompetente José Sarney utilizou-se do cargo de presidente do Senado da República e de todo seu poder de chantagem para enquadrar Lula, exigir o apoio cartorial do PT maranhense e até fizesse que o Presidente da República passar pelo ridículo papel de entrevistador de Roseana na patética peça de propaganda no horário eleitoral gratuito. Vale lembrar que do alto da cadeira da presidência do Senado Sarney, na prática, evitou a consumação da prisão de seu filho e 'administrador' dos negócios da famiglia, Fernando Sarney que responde à inquérito na Polícia Federal por meia dúzia de crimes. Mas o enredo que desemboca no lamaçal de denúncias envolvendo sarnopetistas dentro do dito 'melhor governo da minha vida' de Roseana é mais amplo. Relembremos alguns fatos.
O PED de 2009, em que pese as debilidades e fragilidades, amplamente reconhecidas por todas as tendências do PT, mostrou no Maranhão sua faceta mais deformada. Houve fartas denúncias de participação externa no PED maranhense. Filiados ao PPS, PMDB, prefeitos, vereadores, secretários de estado interferiram diretamente no processo de eleições internas petista, o que é um absurdo. Além disso houve denúncias de compra de votos, de filiados votando por outros, denúncias de falsidade ideológica e etc. Raimundo Montero venceu no segundo turno sob suspeitas de irregularidades nas votações em diversas cidades, sobretudo em Bacabeira. Naquele momento Montero assume a presidência e não ousa falar em aliança com o PMDB, se limita à afirmar que seguirá a orientação do “projeto nacional”.
Mesmo com todos esses problemas o PED2009 elege os delegados que decidirão nos encontros partidários a linha política do partido nas eleições 2010. Aí os nomes começaram à aparecer por que para apoiar a candidatura majoritária de outro partido é preciso protocolar documento subscrito. O documento em questão afirmava que era preciso apoiar candidatura da base de sustentação do governo federal. A lista continha uns 10 partidos, ia do PR ao PMDB. Nesse momento ainda causava vergonha expressar publicamente apoio à Roseana Sarney. Assinaram o documento Fernando Magalhães, Paulo Romão, Raimundo Montero, Whashington Luís dentre outros. A ala anti-sarney apressou-se em protocolar um documento em que declarava apoio ao bloco democrático-popular apoiando a candidatura do PCdoB de Flávio Dino.
Com esses documentos tornou-se necessária a realização do encontro estadual de definição de tática eleitoral. Um eufemismo, por que o IV congresso nacional do PT aprovou resolução em que conferiu poderes ao diretório nacional para decidir em última instância sobre tática eleitoral nos estados. Nesse encontro foi vitoriosa a tese favorável à aliança com PCdoB derrotando as intenções sarneyzistas no voto aberto e nominal, com a presença do secretário nacional de organização do partido Paulo Frateschi que proclamou o resultado final da votação e afirmou: “No Maranhão haverá aliança com o PCdoB”. Ainda neste encontro não faltaram relatos de coação política a membros de governos municipais, aliciamento para compra de votos, desaparições e etc. Comenta-se que circularam pastas com valores que chegavam quarenta mil reais.
As denúncias de compra de apoio político continuaram. Com o encontro estadual perdido a ala sarnopetista organiza uma reunião que chama de encontro de delegados e afirma passar a ter maioria de delegados. Nesse encontro é produzido um documento que é apresentado em Brasília ao presidente nacional do PT José Eduardo Dutra, que inclusive esteve presente ao encontro estadual de definição de tática. Portanto tem razão o companheiro Francisco Gonçalves quando afirma que a traição não é nacional, ela ocorreu aqui no Maranhão. Se não houvesse essa movimentação paralela às instâncias partidárias aqui no Maranhão não haveria recurso na fatídica reunião do diretório nacional do dia 11 de junho que determinou a intervenção branca no Maranhão.
Amparado pela movimentação clandestina dos sarnopetista liderados por Whashington Luís o presidente do PT José Eduardo Dutra apresenta recurso ao Diretório Nacional invocando dispositivo contido na resolução aprovada no IV congresso que confere poderes ao Diretório Nacional. A imprensa noticia o comentário de dirigentes nacionais que afirmam: “É o Lula que quer.” À essa altura o presidente Lula, com toda a popularidade e admiração que o povo brasileiro nutriam e nutrem por sua pessoa e seu governo, estava literalmente com a faca no pescoço. Sarney ameaçava licenciar-se do cargo do presidente do senado e entregar a presidência à Marconi Perilo do PSDB bem no momento em que o congresso discutia e aprovava o marco regulatório da exploração do petróleo na faixa pré-sal. Com essa faca afiada no pescoço Lula não quis, como afirmava a imprensa, mas na verdade foi obrigado, o que é um absurdo, por que a ala sarnopetista do PT maranhense ao invés de contribuir para que o governo se livrasse de Sarney, contribuiu para tornar o governo mais refém do Sarney. E assim vai continuar no governo Dilma.
Foi nesse contexto que aconteceu um dos atos políticos mais violentos da história do PT quando um encontro democrático, legítimo e legal foi simplesmente jogado no lixo, juntamente com a história e os sonhos de milhares de petistas maranhenses que derramaram sangue, suor e lágrimas na esteia do sonho de uma sociedade mais justa e fraterna. Domingos Dutra, Terezinha Fernandes e Manoel da Conceição, histórico líder camponês, único maranhense signatário da carta de fundação do PT no colégio Sion em fevereiro de 1980, que foi desrespeitado e impedido de entrar na sala em que se realizava a fatídica reunião do dia 11 de junho, desesperados entram em greve de fome no congresso nacional. Esse ato chama atenção da imprensa nacional pelo extremo que representa mas a imprensa não toca no mérito da questão, o por que do estupro ao PT do Maranhão e à história de milhares de militantes. No cerce na questão está o senhor José Sarney, um homem de famiglia que não exita em empregar neto(a)s e parentes em cargos públicos em Brasília, se for para ajudar a famiglia. “Qualquer pai faria isso” disse certa vez. Um político habilidoso, um gestor incompetente, e uma cabeça que funciona ainda no século XVIII. Um politico que se mantém no poder desde a década de 1960, derrotou gerações e gerações de oposicionista, apoiou a ditadura e sobrevive na democracia. Concentra poder e influência nas instâncias da república na base pura e simples da troca de favores. “Me ajuda que eu te ajudo”, um mestre na arte de reproduzir essa forma de sociabilidade tão cara á formação colonial brasileira, baseada na intimidade das relações pessoais e familiares e infestar o espaço público republicano e democrático com essas práticas. Um mestre na arte de chantagear.
Foi com esse poder que José Sarney retirou o apoio legítimo do PT maranhense à Flávio Dino esvaziando a candidatura comunista que mesmo assim quase chegou ao segundo turno. Mais um sintoma da fragilidade de sustentação democrática da oligarquia. E mesmo assim, contra tudo e contra todos Roseana elegeu-se pela quarta vez governadora do estado. “estamos ferrados” anunciam blogs na internet, sobre os quatro anos de desmandos, incompetências e abusos que virão por ai...
O quarto governo de Roseana Sarney se inicia na base do improviso e marcada pela ineficiência administrativa, coisa que se repete desde o primeiro governo Roseana, de 1995. A novidade agora é a presença estranha de Washington Luís na perigosa cadeira de Vice-Governador. Para uma governadora que já passou 23 cirurgias e sofreu um aneurisma cerebral a presença de Washington realmente deve incomodar o núcleo de poder da oligarquia. Há de se lembrar que desde abril de 2009 Roseana cede a poderosa secretaria de educação do estado à um indicado de Washington, Anselmo Raposo como parte das negociações pelo apoio político do PT à oligarquia. Com a formação do novo governo o PT é jogado para escanteio. O ridículo Rodrigo Comerciário comercia o seu apoio à oligarquia já desde o PED2009 indicando Edmilson Sanches à secretaria de desenvolvimento social. No novo governo Comerciário assume a secretaria extraordinária de relações institucionais, uma pasta tampão, e joga Edimilson para escanteio. José Antônio Heluy permanece na secretaria do trabalho como cota pessoal da governadora. Roseana demite Anselmo Raposo acusando-o de ladrão e pede à Washington nome com ficha limpa e competência para a educação. Washington não tem esse nome. Quadros o PT maranhense tem, com ficha limpa e competência, mas nenhum concorda em participar do governo oligárquico.
A ingerência administrativa é geral. Há crise no setor da educação com greve de professores, no setor penitenciário, com rebeliões e 24 presos degolados em dois meses, no ministério público com a reforma fraudulenta da sede das promotorias, nas bolsas da FAPEMA cedidas à políticos, incluindo os petistas Fernando Magalhães, secretário geral do PT-Ma e Paulo Romão, membro do diretório estadual, que no novo governo são nomeados para a assesoria da vice-governadoria. Recentemente a imprensa divulgou que Anselmo Raposo, o acusado de ladrão por Roseana também foi nomeado na vice-governadoria. Por último foi noticiado a operação da Polícia Federal que investiga o desvio de recursos do Incra destinados à construção de casas para trabalhadores rurais. A Polícia Federal aponta como cabeças da organização o ex-presidente do Incra, Raimundo Montero, atual presidente do PT-Ma e o atual presidente do Incra, Benedito Terceiro.
O elo de ligação de todas as denúncias e todos os personagens petistas envolvidos é o vice-governador Washington Luís. Seu projeto é tornar-se governador não se sabe como por que não há meios de tomar o poder político das mãos da oligarquia que se não seja pelo protagonismo cívico do povo nas ruas como foi em 2006. Contudo, o projeto de Washington é um projeto sem estratégia, ou com uma estratégia débil, do qual agora ele próprio se tornou refém. A escalada de denúncias contra membros do PT cumprem uma função estratégica fundamental para os planos da oligarquia: tornar Washington tão refém da proteção da famiglia para que não possa dar um passo sem o consentimento dos cães de guarda oligarquia. É um movimento claro e deliberado para controlar um estranho no ninho que pensou que poderia minar a oligarquia por dentro e que na verdade está sendo minado. Tudo o que está acontecendo com Washington e seu grupo não diz respeito ao que o grupo que apoiou o PCdoB nas eleições de 2010. Trata-se de responsabilidades que são única e somente do grupo que traiu os sonhos de milhares de militantes petistas para fazer um joguete sujo e vil do poder pelo poder.
Diante das graves denúncias e da investigação da Polícia Federal contra o presidente do PT Raimundo Montero é preciso que o mesmo se licencie do cargo, para que o vice-presidente assuma e organize eleições para eleger um presidente interino como assegura o estatuto do PT. É preciso também afastar Paulo Romão, Fernando Magalhães e Fernando Silva dos cargos de dirigentes partidários com base no estatuto do PT.
*Bruno Rogens é militante da AE/PT e professor universitário
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