Em primeiro lugar por que é uma obra pública realizada com a
intenção de valorizar os negócios da famiglia Sarney e sócios em
São Luís. Vejamos: a avenida se inicia nos portões de fundo do
CEUMA no bairro do Renascença, e segue ao lado do Shopping Jaracaty,
que teve incluisve o seu entorno todo urbanizado em decorrência da
obra. Depois passa ao lado do Shopping São Luís que tem Jorge
Murad, esposo de Roseana Sarney, como sócio majoritário. Depois
segue por onde do lado direito e esquerda temos terrenos loteados
que, à se julgar pelas informações que nos chegam, pertecem ao
senador Lobão Filho, aliado da famiglia na política e nos negócios.
Depois irá desembocar na avenida Daniel de La Touche no Ipase ao
lado do Shopping da Ilha, que tem os Sarneys também como sócio.
Em
segundo lugar por que está agredindo violentamente moradores da
comunidade do Vinhais Velho e aqui trata-se do fator humano. São
pessoas que tem famílias, trabalhadoras, que pagam seus impostos e
que receberam informação do governo dizendo que teriam que sair das
suas casas, aceitar uma indenização chifrin, e que não teriam nada
o que fazer, a não ser aceitar isso. Na linha de tiro da avenida
estão um empreendimento, que gera emprego e renda para a economia da
cidade, e o sitio do Seu Olegário, descendente dos índios
Tupinambás, conforme registros em artigos da historiadora Antônia
Mota. A região onde se encontra o sítio do Seu Olegário é um
verdadeiro paraíso ambiental, com fontes de água pura, um açude e
vegetação exuberante.
Depois
vem os problemas ambientais. Serão cerca de 6km de avenida quase que
totalmente construídas em cima de mangue. As fotos estão fartamente
publicadas na internet e nas redes sociais para quem quiser ver a
verdadeira tragédia ambiental que é a construção dessa avenida. E
aqui cabe um adendo sobre o modelo de cidade que os cidadãos querem:
se por um lado querem poder se deslocar livremente com obras de
mobilidade urbana, por outro também querem ter o meio-ambiente
preservado para uma melhor qualidade de vida na cidade. O grave é
que o modelo de governo oligárquico autoritário em vigência não
concebe a ideia de que o cidadão deva ser ouvido para tomada de
decisões de obras de intervenção pública.
Depois
vem o problema da agressão ao patrimônio histórico, cultural e
arqueológico da região do Vinhais Velho. Primeiro núcleo de
colonização da cidade. Pode-se afirmar com certeza que a cidade
começou pelo Vinhais Velho. Uma vez instalado o forte de conquista
de São Luís onde hoje fica o Palácio dos Leões, decidiu-se por
iniciar o povoamento e a colonização nas aprazíveis terras onde
hoje se localiza o Vinhais Velho. A citação é de artigo da
historiadora Antônia Mota.
“Em 1757, a aldeia da Doutrina passou a se chamar Vila de Vinhais,
com casa de Cadeia e Câmara, Vereadores e Juízes. O Arquivo Público
do Maranhão guarda tanto os registros ligados à capela de São João
Batista de Vinhais, com seus livros de batismos, casamentos e óbitos,
como as atas e Livros de Registro do Conselho Municipal, estabelecido
em um sobrado no anterior aldeamento jesuítico (MARQUES, 1970, p.
632).A comunidade estabelecida na antiga Eussouap era tão próspera
neste período, que o governador Melo e Póvoas fundou ali uma
“fábrica de soque de arroz”, onde foram empregados os outrora
missioneiros. Este era um tipo de empreendimento muito comum nos
arredores do porto de São Luís, uma vez que na segunda metade do
século XVII, o Maranhão era grande exportador de algodão e arroz,
sendo as fábricas de beneficiamento localizadas nas margens dos
igarapés, aproveitando a força das águas para mover seus engenhos.
Existem registros sobre várias destas fábricas nos arredores do
porto de São Luís, a partir da Praia do Caju, passando por Santo
Antônio, Remédios, Genipapeiro, Camboa, até chegar a Vila de
Vinhais.” (Antônia Mota, Vinhais Velho ameaçado pela Via
Expressa)
Estabeleceu-se também no Vinhais Velho simpĺesmente a primeira
Igreja Católica de São Luís. Um verdadeiro patrimônio
histórico-cultural. Outra riqueza de icomensurável valor são os
sítios arqueológicos que existem na região. Os artefatos são
fartamento encontrados e ajudam a compreender o que se passou no
período da colonização. Se forem enterrados junto com a via
expressa, será enterrado também os artefatos que ajudariam a
entender mais sobre a história de São Luís e do Maranhão.
Portanto em tempos de celebrações canhestras sobre os 400 anos de
fundação da cidade o Vinhais Velho é um verdadeiro patrimônio
histórico-cultural de São Luís que deve ser preservado pelo poder
público e não destruído por uma avenida sem noção.
Por último sou contra a via expressa por ela ser um verdadeiro
engodo no debate em curso hoje na cidade sobre os graves problemas
estruturais existentes. É uma obra que terá um grande custo
financeiro, com grave consequencias ambientais, que se afigura
flagrante agressão ao patrimônio histórico-cultural e arqueológico
de São Luís, e que não ajudará, ou ajudará muito pouco na
resolução dos graves problemas de trânsito da capital. À quem ela
realmente beneficará eu não sei mas desconfio...
Diante de todas essas objeções é salutar fazer alguns
questionamentos:
Onde estava a promotoria do meio ambiente quando as obras começaram
à ser construídas?
Onde estava o IPHAN quando o projeto da obra previa a destruição da
comunidade do Vinhais Velho e todo seu patrimônio histórico,
cultural e arqueológico?
Onde está o relatório de impacto ambiental da obra, já que a mesma
está quase toda sendo construída em cima de manguezais?
A que interesses serve o senhor secretário de estado Max Barros que
não se pronuncia sobre os direitos da comunidade e quer a todo custo
entregar a obra ainda em dezembro deste ano?
Onde estão as escrituras de posse de terrenos do lado direito de
esquerdo da primeira parte da obra e onde elas foram lavradas?
Essa regiao, lado direito e esquerdo da primeira parte da obra, não
era um parque ambiental, o Santa Eulália?
Diante da propositura de uma audiência pública à ser realizada em
breve sobre a questão do Vinhais Velho, esperamos que essas questões
venham à tona e mais que isso... as explicações.
Bruno Rogens
Professor
Mestre em Ciências Sociais
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