sábado, 31 de março de 2007

PMs são indiciados por tortura e morte de Gerô

31-Mar-2007 SUZANA BECKMAN
DA EQUIPE DE O IMPARCIAL


Oito policiais foram indiciados pela Delegacia deHomicídios no inquérito sobre a morte do compositor Jeremias Pereira da Silva, o “Gerô”. Ele torturado até a morte por policiais militares no último dia 22. O documento, com 242 páginas, pede a prisão preventiva de todos os acusados. No momento, apenas os soldados Expedito e Paulo, presos em flagrante, estão encarcerados.
Dos oito, cinco foram indiciados por prática de tortura seguida de morte: os soldados Expedito e Paulo, presos em flagrante no dia do crime, os soldados Alberto e Estrela e também o sargento Mendes, inicialmente arrolado apenas como testemunha, mas identificado posteriormente como o militar que teria batido com o porta-malas da viatura policial na cabeça do compositor.
O tenente Carlos Alessandro, o soldado Waldimar Carvalho e o Capitão Lenine fora indiciados pelo crime de omissão. O capitão foi indiciado depois de divulgada uma gravação telefônica do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops). Na conversa, o capitão Lenine orientava os policiais a levarem Gerô para o hospital psiquiátrico Nina Rodrigues, informando que ele teria provocado os ferimentos em si mesmo ao se debater contra as grades da cela.
SIGILO
No documento, que tem 242 páginas, a delegada de Homicídios Edilúcia Trindade também solicita a quebra do sigilo telefônico do Ciops e do Capitão Lenine. Segundo a delegada, isso não foi feito antes devido à exigüidade do tempo para elaboração do inquérito.
Para Edilúcia, foi a descoberta das gravações que proporcionou o indiciamento de todos os envolvidos no crime. “Foi assim que conseguimos apurar a culpa de pessoas que a princípio não tinham envolvimento direto no crime, como o capitão Lenine. Tenho a convicção que fiz a coisa certa”, disse a delegada.
Outra diferença entre a conclusão do inquérito e o auto de prisão em flagrante lavrado no dia 22 é a mudança na qualificação do crime. Em vez de homicídio simples, os indiciados passarão a responder pelo crime de prática de tortura, crime não previsto no código de conduta militar. A mudança ocorreu depois de informações extra-oficiais do Instituto Médico Legal (IML), segundo as quais o compositor teria morrido em decorrência de choque povoliêmico provocado por instrumento de ação contundente (bastão).
A família de Gerô, por sua vez, tem evitado a exposição. Apenas três dias após a morte do cantor, a viúva e o filho de Gerô deixaram a casa onde moravam na Cidade Operária. “Eles estão se protegendo. O que a gente espera é que haja punição, é isso que a família quer”, desabafou Plácido Francisco, cunhado de Gerô.

LINHA DO TEMPO
22/03 – confundido com um assaltante, o compositor Geremias Pereira da Silva, o Gerô, é espancado e torturado até a morte por um grupo de policiais militares.

23/03 – sob protesto e forte comoção popular, Gerô é enterrado no cemitério do Turu. Na manifestação que precedeu o enterro, realizada na Praça Deodoro, familiares do compositor e militantes do movimento negro fazem manifestação contra o racismo. O governador Jackson Lago (PDT) anuncia “limpeza” na Polícia Militar;

26/03 – arrolado apenas como testemunha, o sargento Sérgio Mendes, da Polícia Militar, é indiciado no inquérito que apura a morte de Gerô. Ele teria batido a tampa do porta-malas da viatura na cabeça do compositor.

27/03 – Divulgadas imagens da tortura de Gerô, feitas por telefone celular. O cantor apareceria se debatendo contra as grades de uma cela no posto policial do terminal de Integração na Praia Grande. A missa de sétimo dia de Gerô, realizada no mesmo dia, contou também com um protesto em frente ao primeiro Distrito Policial da capital.

28/03 – Indiciado por omissão à prática de tortura, o capitão Lenine, que trabalhava no Ciops no dia do assassinato de Gerô, foi afastado do cargo.

29/03 – Uma gravação das operações do Ciops confirma que a Polícia Militar sabia da prisão e do espancamento do artista. Trata-se de uma conversa entre o capitão Lenine com os soldados Expedito e Paulo informando que haviam prendido Gerô e que ele estava ferido.

30/03 – A Delegacia de Homicídios conclui o inquérito sobre a morte de Gerô. Oito policiais são indiciados.

QUEM É QUEM
Capitão Lenine
– de serviço no Ciops no dia da morte de Gerô, ele teria orientado os soldados Expedito e Paulo a levar o cantor, já gravemente ferido, para o hospital psiquiátrico Nina Rodrigues. O capitão afirmou que não sabia que se tratava de Gerô. Indiciado por omissão à prática de tortura.

Tenente Carlos Alessandro – foi o oficial que esteve na 1ª Delegacia Distrital e no Terminal de Integração da Praia Grande, onde a vítima esteve primeiramente. Indiciado por omissão.

Sargento Sérgio Mendes – Ele teria sido visto por testemunhas batendo em Gerô junto com os soldados Paulo e Expedito, autuados em flagrante. Mendes nega qualquer agressão no crime, mas será indiciado junto com os colegas. Indiciado por prática de tortura.

Soldados Paulo, Expedito e Waldimar Carvalho
– chamados para atender a uma diligência no bairro do São Francisco, teriam encontrado Gerô e o confundido com um assaltante, passando a espanca-lo. O envolvimento de Waldimar foi confirmado posteriormente, na transcrição das gravações do CIOPS divulgadas na última quinta-feira.Indiciados por prática de tortura.

Soldados Alberto e Estrela
– estavam de serviço no terminal de integração da Praia Grande no dia da morte de Gerô. Indiciados por prática de tortura.

CPM não confirma saída de coronel

O Comando da Polícia Militar não confirmou a informação de que o comandante do Policiamento Metropolitano da capital (CPM) iria deixar o cargo. A informação, divulgada na manhã de ontem, também não foi confirmada pela secretária de segurança Eurídice Vidigal. A secretária permaneceu em reunião a portas fechadas durante toda a tarde e não foi encontrada pela equipe de O IMPARCIAL para comentar o assunto.
O coronel Uchoa, por sua vez, disse ter tomado conhecimento da situação apenas informalmente. O coronel disse ter que já havia tomado conhecimento da através de pessoas próximas a ele, mas apenas sob a forma de boatos. “Não recebi qualquer confirmação de que isso possa de fato acontecer. Gostaria até de saber, para poder me posicionar”, garantiu o coronel.
Para Uchoa, ainda que confirmada, a sua saída do CPM não pode ser relacionada aos índices de criminalidade ou às recentes ocorrências de crimes envolvendo policiais militares no estado. “Estou confiante no desenvolvimento do meu trabalho, já que tivemos redução nos índices de criminalidade”, afirmou. Segundo ele, as ocorrências envolvendo o compositor Gerô e o prefeito “Bertim” representam prejuízo para a imagem da corporação, mas são casos isolados. (SB)
Fonte: O imparcial

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