sábado, 18 de abril de 2009
A resistência deve vir das ruas
A resistência contra o golpe deve vir das ruas
Bruno Rogens*
Quando me entendi por gente, e descobri que existia esse fenômeno que chamamos política, Roseana Sarney pleiteava o posto de Governadora do Estado em 1994. À época seu oponente era Epitácio Cafeteira, hoje fiel aliado de José Sarney. Também à época, quem governava o Estado era Edson Lobão, também fiel aliado da família.
Nas eleições em questão Roseana ganhou por uma diferença apertada numa disputa marcada por boatos e a utilização de defuntos como cabo eleitoral para desmoralizar adversários. Roseana governou por dois mandatos e ‘comandou’ o Maranhão até 2002. Durante seus dois mandatos o Maranhão continuou sua trajetória de flagelo social e humano galgando o título de Estado mais pobre da Federação. Do ponto de vista administrativo seu governo foi marcado por escândalos de corrupção como a construção da estrada fantasma Paulo Ramos-Arame, o escândalo do complexo Salangô, o pólo de confecções de Rosário, o escândalo dos R$ 1.400.000,00 encontrados no cofre da empresa Lunus, que culminou na demissão do homem forte de seu governo, seu marido Jorge Murad.
Mesmo com os escândalos Roseana conseguiu eleger seu sucessor, José Reinaldo Tavares, que, já naquela ocasião foi pego com a boca na botija às vésperas das eleições para primeiro turno com flagrante de compra de votos pela Polícia Federal. O processo no TSE não deu em nada e Reinaldo governou até 2006. No meio dessa trajetória José Reinaldo rompe com o grupo Sarney por motivos puramente pessoais, uma briga de egos entre a primeira dama e a ‘governadora de fato’, Roseana, que obriga o marido José Reinaldo a tomar parte na briga entre as damas o que culmina no rompimento com o grupo Sarney, e a construção da chamada Frente de Libertação do Maranhão.
Lembro o leitor, que já em 1994, os resultados eleitorais mostravam um claro viés anti-sarney, com a candidata do grupo vencendo por pequena margem de vantagem e em meio a um verdadeiro mar de boatarias abastecidos pelo controle da opinião pública exercido pelo jornalismo de sarjeta do sistema mirante de comunicação.
Em 2006 o fator decisivo para o resultado das eleições foi a participação popular e sobretudo da juventude que foi às ruas a três semanas do primeiro turno, quando as pesquisas da mirante alardeavam 77% de preferência por Roseana, dizer NÃO À FAMÍLIA SARNEY, com o lema XÔ ROSENAGANA. A primeira passeata contou com a participação de cerca de 3.000 pessoas. A segunda, a uma semana do primeiro turno levou 10.000 pessoas às ruas do centro de São Luís fazendo o sentimento anti-Sarney ecoar pelos quatro cantos do Estado, levando a eleição para o segundo turno, e elegendo Jackson Lago.
Naquele momento algo de muito importante havia ocorrido na recente história política do Maranhão, pois pela primeira vez havia sido eleito um candidato ao governo estadual com o viés notadamente anti-oligarquia, derrotando eleitoralmente Roseana nas urnas e dando um recado ao velho Sarney de que os ventos políticos no Maranhão haviam mudado de direção. Mas infelizmente os ventos que sopravam no Maranhão, não eram os mesmo que estavam soprando no contexto nacional.
O País, mesmo diante de um fato histórico como eleger um migrante nordestino, líder sindical, fundador de um Partido de Trabalhadores, teve que admitir o controle efetivo que José Sarney detém sobre parte da República. Controle esse que constrange princípios republicanos e democráticos fundamentais como a independência entre os poderes, a alternância de poder, a pluralidade de idéias e o respeito cívico à prerrogativa fundamental de respeito ás idéias e posicionamentos divergentes. Hoje, em 2009 maranhenses que acreditam na democracia, que optamos por um rumo político diferente daquele que é da vontade de José Sarney e seu grupo e que votamos contra Roseana em 2006, temos que nos sujeitar a vontade de um coronel ultrapassado que insiste em utilizar o poder que acumulou para preservar privilégios e perseguir adversários e impor sua vontade à tribunais onde cobra favores políticos prestados.
O mais surreal dentre as várias situações absurdas que temos testemunhado é que José Sarney quer entrar para a história como aquele que permitiu a transição democrática no país. É no mínimo irônico que tal papel tenha sido apropriado por alguém que sempre foi subserviente ao poder, o que é totalmente contrário ao principio democrático fundamental do pluralismo de idéias e posicionamentos políticos. A biografia de Sarney vai à contramão desse principio. Mas esse é um julgamento para a história.
Acredito como militante político e social que os fatos absurdos que estão diante de nós nos dão desalento, mas também oferecem uma oportunidade importante para refletir sobre o futuro de nossa luta contra os verdadeiros abusos de poder político. Temos que entender melhor a natureza do nosso adversário. Não dá para embarcar numa disputa justa, mas puramente romântica e sentimental contra a dominação secular exercida pela família Sarney no Estado. É preciso entender cientificamente do ponto de vista sociológico e da ciência política os mecanismos de exercício do poder da família. Ao mesmo tempo elaborar uma estratégia de poder popular e de desenvolvimento econômico para tirar o Estado da miséria. É preciso aliar essa estratégia à uma agenda nacional de efetiva democratização do estado brasileiro e combate ao abuso do poder político dos velhos coronéis através da construção das bases de um novo pacto federativo. Sobretudo é preciso refundar o sistema político brasileiro fortalecendo os partidos políticos, estabelecendo o financiamento público de campanha fazendo uma ampla reforma política. Os gritos dessas reivindicações devem vir das ruas, das praças públicas, verdadeiros locais de onde emergiu a forma democrática de fazer política.
Bruno Rogens
Sociólogo
Integrante do Projeto Software Livre Maranhão
Militante da Juvetude do PT
Membro do Fórum Municipal de Juventudes de São Luís
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