A
situação da mobilidade urbana na região metropolitana de São Luís
continua precária. Tal crise reflete e expressa uma crise mais ampla
nas condições gerais de empregabilidade e da capacidade de geração
de renda da economia ludovicense. Segundo dados do IBGE hoje São
Luís divide com Manaus o título de capital com maior taxa de
desemprego entre as capitais no país com espantosos 19,8% de pessoas
sem trabalho. No 3º trimestre de 2017 segundo dados da PNADC
existiam 312 mil empregados e 123 mil pessoas trabalhando por conta
própria na cidade de São Luís. Juntas essas duas categorias
perfazem 97,2% da população economicamente ativa da cidade. Em 2010
o censo indicou que 75% da PEA ludovicense possuía renda mensal de
até 2 salários mínimos. Temos razões para crer que esse padrão
se mantém na conjuntura atual revelando a precariedade e o esforço
que a grande maioria da população da cidade tem para garantir
níveis mínimos de sobrevivência digna.
Ainda
assim a prefeitura de São Luís insiste em massacrar os mais
humildes ao ignorar uma política de valorização da renda dos
trabalhadores e dos segmentos mais pobres da população. Podemos
observar isso analisando a política da prefeitura para o transporte
coletivo da cidade. Segundo dados da própria prefeitura em 2014 na
região metropolitana ocorreram 2.066.240 (dois milhões sessenta e
seis mil duzentas e quarenta) deslocamentos. Destes, 67% foram
realizados sob transporte motorizado (automóveis, motos, ônibus e
caminhões) enquanto que 33% foram realizadas sob a forma
não-motorizada (bicicleta ou a pé). Das viagens motorizadas 53%
foram realizadas através do sistema de transporte coletivo (ônibus).
Observa-se aqui a importância e o peso de tal modalidade de
transporte para o conjunto da população sobretudo aos mais
humildes.
Em
2014 a passagem nível 4 em São Luís aumentou de R$2,10 para R$2,40
aumento de 30 centavos que representou 14,28% do total da passagem.
Nesse mesmo período segundo dados da PNADC a renda média do
trabalhador ludovicense caiu de R$1.275 para R$1.185 ou seja queda de
7,05% na renda do trabalhador em 1 ano. A inflação acumulada de
2014 foi de 6,41% abocanhando ainda mais o poder de compra dos mais
pobres.
Em
2015 a prefeitura anunciou um aumento de 40 centavos na passagem
nível tentando elava-la para R$2,80 o que representaria um aumento
absurdo de 33,33% no valor total da passagem. Após intensas
mobilizações e protestos dos estudantes, juventude e classe
trabalhadora que praticamente paralisaram a cidade por 1 semana a
prefeitura recua e estabelece o valor de R$ 2,60 impondo na prática
um aumento de 20 centavos o que representou um aumento de 16,66% do
valor total da tarifa. Nesse período a renda média do trabalhador
em São Luís cresceu 16,34% mas no período houve uma inflação de
10,67% corroendo mais uma vez o poder de compra dos mais pobres.
Em
2016 a prefeitura anuncia mais um aumento desta vez de 30 centavos
com a passagem chegando à R$2,90 e o valor proporcional do aumento
batendo os 11,53%. A renda do trabalhador continua a crescer mas mais
uma vez é anulada pela inflação acumulada do ano que cheda à
6,29%. Ainda em 2016 o prefeito se aproveita do processo licitatório
e fatura um poderoso bordão de campanha ao afirmar que não haverá
aumento de passagem no ano seguinte, o que de fato ocorre mas em
função do processo de adaptação dos agentes envolvidos na
licitação diante da nova situação jurídica dos mesmos. Contudo a
famigerada licitação, aprovada à rodo e sem participação popular
pela prefeitura, estabelece no ponto 3.1 que “Como forma de
manutenção da expressão financeira da TARIFA DE REMUNERAÇÃO, é
assegurado à CONCESSIONÁRIA o reajuste anual da TARIFA DE
REMUNERAÇÃO, a ser concedido por ato do PODER CONCEDENTE,
segundo fórmula paramétrica definida em CONTRATO e procedimento
estabelecido no REGULAMENTO DOS SERVIÇOS.” Portanto
preparemo-nos
pois agora haverá aumentos anuais de passagens.
Este
ano a passagem aumentou de R$2,90 para R$3,10 no nível de integração
e houve a unificação dos outros níveis para o valor único de
R$2,70. Considerando o menor valor entre os níveis tarifários que
era de R$2,20 houve um aumento neste nível de 22,72% o que constitui
verdadeiro crime contra a população mais pobre da cidade. Além de
ilógico para o interesse público pois se o passageiro reside no
Monte Castelo e quer ir ao Centro terá que desembolsar um valor de
passagem quase igual à quem tem direito de realizar uma integração
e se deslocar por quase toda cidade. A lógica subjacente à essa
medida satisfaz apenas aos bolsos dos empresários de ônibus agora
devidamente protegidos com um manto jurídico chamado licitação do
sistema de transporte coletivo.
De
2014 para cá as passagens de ônibus aumentaram 57,27% enquanto que
a renda do trabalhador em São Luís cresceu apenas 45,4% combalido
por uma inflação no período de 26,32%. Portanto o bolso do
trabalhador está cada vez mais apertado e este aumento de passagem
vai tirar diretamente do bolso do trabalhador para colocar no bolso
dos donos de empresas de ônibus que operam na cidade. A famigerada
licitação não discutiu em nenhum momento modalidades de subsidio
tarifário de caráter social que permitissem que àqueles que mais
precisam do sistema de transporte coletivo, os pobres, pudessem ter
algum tipo de política pública formulada à seu favor. Ao contrário
a cortina de fumaça foi jogada sob a forma de ônibus com
ar-condicionado que no caso de São Luís é uma obrigação moral do
gestor para com a população já que o clima na cidade é tropical
quente e seco na maior parte do ano.
A
insensibilidade social da prefeitura de São Luís também se reflete
na sua obsessão para com as avenidas de grande fluxo para os bairros
ou condomínios residenciais da alta classe média ou da elite da
cidade como a avenida dos holandeses por exemplo. Nesta avenida a
prefeitura bota asfalto novo quando não precisa e irá implantar
juntamente com o governo do Estado do Maranhão uma linha de BRT que
não terá função social nenhuma já que os grandes gargalos de
deslocamento na grande ilha continuam sendo a avenida Jerônimo de
Albuquerque e suas conexões com a Forquilha (como via de acesso ao
Maiobão), Cohatrac-Cohab e Cidade Operária, o centro da cidade, a
avenida São Marçal no João Paulo e a avenida dos Franceses.
Infelizmente o conceito de mobilidade urbana ainda não chegou na
agenda dos gestores públicos maranhenses. Ou se chegou foi de forma
distorcida como um bordão publicitário destituído de significado
real. Nesse jogo hipócrita de omissões, cinismo, elitismo
inveterado e narcisista quem
se dá mau é a população que precisa ir atrás do seu ganha pão
seja de ônibus, bicicleta ou a pé enfrentando crateras cheias de
lama ou vias totalmente esburacadas como se vê de forma generalizada
no período chuvoso em São Luis, o sinal mais evidente da elitização
burra e inconsequente que assola nossos “administradores”
municipais.
Os dados acima são do Censo e da PNADC do IBGE e da pesquisa básica para licitação do sistema de transporte.
A foto é de Ruy Barros
Bruno Rogens militou no MPL São Luís. Faz parte atualmente da Frente de Lutas pela Mobilidade Urbana na Grande ilha. Membro da Executiva do PSOL de São Luís. Professor Uema.
Os dados acima são do Censo e da PNADC do IBGE e da pesquisa básica para licitação do sistema de transporte.
A foto é de Ruy Barros
Bruno Rogens militou no MPL São Luís. Faz parte atualmente da Frente de Lutas pela Mobilidade Urbana na Grande ilha. Membro da Executiva do PSOL de São Luís. Professor Uema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário